quarta-feira, julho 24, 2013

VIVER O PRESENTE

Esse grande escultor que é o tempo nunca volta atrás para fazer retoques ou modificar seja o que for na obra que esculpiu. No entanto, confesso que embora o "passado" seja para mim um ponto de referência, também não gostaria de voltar a vivê-lo.
No interior daqueles que chegaram a homens sem nunca terem sido meninos, há marcas do passado que jamais se diluirão e que acabam, mais tarde, por servir de lenitivo, de compensação e até de refúgio, sejam quais forem os sobressaltos e os desencontros das nossas vidas. Por mais que queiramos não conseguimos nunca apagar esses traços, essas pegadas que marcaram o começo da nossa existência.
Há sempre um episódio que perdura eternamente - uma vontade insatisfeita, uma aspiração que realizámos, um castigo injusto, uma paixão infantil, um sonho que se desfez e muitas esperanças também!
E é quando a caminhada já vai longa, quando a intensidade das paixões diminuiu, quando as horas deixaram de nos escravizar e as modernas encruzilhadas da vida nos confundem, é então que procuramos o tal refúgio. E nele reflectimos, meditamos, analisamos e, quase sem querer, voltamos atrás e recordamos...
E é nesses momentos mágicos, quando o silêncio impera e refreia o pensamento, que a imaginação, à rédea solta, viaja no tempo, segue as pegadas e perde-se no sótão poeirento das nossas memórias.
Mas nem sempre o reencontro com o passado é pacífico. A vida não volta à infância e muitas vezes as lutas que interiormente travamos por querermos adaptar a aiveca do arado à moderna charrua do tractor, só nos traz desgostos e frustrações. É uma luta inglória - a diferença entre os marcos de pedra do passado e as balizas electrónicas do presente é abismal. Incomensurável!...
Protagonista dessas pelejas, muitas vezes, mesmo antes de começar, deponho as armas, tão diferentes se me afiguram os métodos do combate perante as armas do "inimigo"!
Ademais, não se pode parar o tempo. Temos de viver uns com os outros e é difícil escapar às atmosferas sociais do tempo que passa. Sem renunciar ao passado, tento ser homem do presente. Mas sempre com a aldeia de antigamente a pular-me no coração. Aquela aldeia de olhos postos em Deus, em que se fechava um negócio com um aperto de mão e uma palavra de honra. Foi nesse mundo que me fiz homem, que aprendi a partilhar, que aprendi a cumprir a doutrina da solidariedade, do respeito mútuo, da lei da honra.
Diz-se que a maior parte dos velhos vive de recordações. É natural que assim seja, pois quando já não se pode conservar a alegria da infância e a embarcação começa a desmantelar-se de tanta tempestade ter enfrentado, há que construir outra - uma espécie de jangada feita com os pedaços mais resistentes que escaparam…E com ela tentar esquecer o passado, não pensar no futuro e viver o presente.











Sem comentários: