Tempos longínquos, esses!... Era
no tempo em que – sobretudo nos meios rurais – se chegava a pai sem nunca ter
sido menino.
Qual trabalho infantil, qual
carapuça! Era preciso ajudar os pais e cedo se começava a comer o pão amassado
pelo diabo... Cedo se adquiria o sentido da responsabilidade e, com ela, logo
se iniciava, por aprendizagem prática e contacto directo, o conhecimento do
mundo real.
Não pretendo fazer a apologia
desses tempos difíceis até porque, também eu, muitas vezes palmilhei os seus
agrestes e íngremes caminhos.
Reconheço, no entanto, que
então, e malgré tout se
atingia a maturidade mais cedo. Aliás, é a própria ciência da evolução das
espécies que no-lo ensina: quanto mais evoluída é a espécie, mais longa se
torna a fase da desmama...
E, de facto, hoje, o que as
estatísticas e os estudos sociológicos nos mostram é que a idade em que os
cidadãos atingem a maturidade e a independência económica e social é cada vez
mais elevada.
Exemplos? Há por aí a rodos. O
País está a abarrotar de crianças
grandes!
Quase todas elas
inexperientes, mimadas, irrequietas, mal-educadas, bazófias e, mais grave
ainda, completamente desconhecedoras do mundo real que as rodeia.
Recebo de vez em quando uns
“piropos” acusando-me de falar muito no passado e de ter saudades desse tempo,
que muitos - mesmo sem conhecimento de causa – lhe atribuem "feitos"
tenebrosos! Que lhes faça bom proveito, mas quem não gosta de recordar a sua mocidade?
Quem, como eu, que cedo
comecei a comer o pão que o diabo amassou, pode ficar indiferente ao
comportamento inqualificável dessas crianças
grandes, às quais nunca nada faltou e que de repente tudo tiram aos que
pouco têm? Como podemos nós, os mais idosos, que trabalhámos uma vida inteira,
assistir sem revolta a tudo isto? A corrupção, a falta de palavra, a
irresponsabilidade, o desprezo pelo bem comum, fizeram com que se criasse uma
classe de parasitas, que urge exterminar quanto antes.
Os tristes episódios
políticos a que estamos a assistir são bem o espelho dessa “enxerga podre cheia
de percevejos” que é a política, como lhe chamou Guerra Junqueiro. Esses bichos
fedorentos, esses parasitas, esses homens sem escrúpulos que não hesitam em
criar situações trágicas para o povo e que desacreditam uma Nação aos olhos do
Mundo; que brincam com a vida de pessoas e põem, sobretudo os mais carenciados
numa situação deveras trágica, esses homens, dizia, deveriam ser julgados, não
pela História, que é castigo indolor, mas por tribunais competentes, céleres e
isentos. Que não os nossos…
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