Maio
pardo. Manhã de Domingo. Um Domingo de aldeia, silencioso, sem trânsito e
dominado apenas pelos ruídos próprios da ruralidade – o balido de uma ovelha, o
cacarejar das galinhas do vizinho e ao longe o uivar plangente de um cão.
Uma
brisa fresca vinda da Serra da Estrela deu os bons-dias e continuou. Pelo rumo
que levava dirigia-se à sua colega do Caramulo que ainda mal acordada parecia
espreguiçar-se afastando a ténue cortina da névoa matinal.
O
Sol despontou há pouco e de bocarra aberta estende os braços, inundando de luz
a Natureza e fazendo brilhar as gotas de água retidas na verde folhagem das
árvores. A avaliar pelas poças de água aqui e além no caminho, choveu de noite.
Cheira
a Primavera – esse cheiro característico e indefinido em que tudo se reúne e
onde o odor vindo da terra prenhe de novidade a despontar, se mistura com os
variados cheiros dos inúmeros perfumes das indumentárias com que as árvores se
começam a vestir.
O
lençol de nuvens que cobria a Serra desapareceu, e ela resplandece agora
oferecendo-nos uma espécie de manta de farrapos de várias cores – uma espécie
de arco-íris de flores campestres em que a urze predomina e sobressai…
Como
que hipnotizado por tão natural e rara beleza, quase não me apercebi da sua
chegada: eram muitos e vinham em grupos. Todos diferentes tanto no vestir, como
na maneira de se exprimirem ou na forma de se deslocarem, mas no fundo todos
iguais e parecidos na maneira de comunicar.
Não
compreendia a sua linguagem, mas dava para entender que todos estavam de acordo
quanto ao local escolhido para a reunião.
De
que se trataria? De um aniversário, de uma festa ou simplesmente da comemoração
de uma data importante? Havia também aqueles cujos procedimentos se
assemelhavam a uma confraternização ou a uma reunião de amigos ou conhecidos.
E
assim permaneceram por algum tempo num encontro barulhento, interrompido de vez
em quando por uma debandada geral, mas logo seguida de um retorno maciço.
Entretanto
devem ter chegado a acordo, pois assim como vieram, em grupos, assim partiram,
pressupondo eu que tenha sido para pôr em execução o que haviam combinado.
O
Sol agora aquece mais e a passarada, em bandos, com as andorinhas a comandar a
“esquadrilha”, lá se dispersou em várias direcções….
Maio
pardo. Manhã de Domingo e eu a pedir a Deus que me conceda mais um ano para
assistir a outro encontro da passarada, a mais um dos Seus milagres, a mais um
renascimento – o da Primavera em que a Natureza se veste toda de verde fazendo
sobressair os variados tons das flores que desabrocham de viçosos caules.
Manhã
de Domingo. Primavera - a Natureza com fatiotas garridas. Que belo e
deslumbrante espectáculo. E que bênção ao contemplá-lo do alto deste meu montão de
Invernos!
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