quinta-feira, julho 18, 2013

ÁFRICA MÁRTIR


Não reconheço, a quem nunca viveu em África, autoridade e conhecimentos suficientes para dela falarem. E isto, porque é muito difícil, e para muitos até impossível, entrar na mentalidade dos seus habitantes, mesmo até depois de uma convivência de anos.
Muitos dos que escrevem, esquecem-se, (ou não sabem) que a descolonização tentou impor à nova África, "um nacionalismo sem Nação", quando é a tribo, e não a nação, que constitui a célula base da vida africana.
A título de exemplo, aquando do conflito, há alguns anos, entre o Ruanda e o Zaire, e muito embora nós chamemos os opositores de ruandeses e zairenses, o certo é que na intimidade das suas aldeias eles sentem orgulho de pertencerem, antes de tudo, às suas respectivas e inúmeras tribos de origem. E assim, o que designamos por uma guerra entre paises, é , na realidade, uma guerra entre tribos rivais. O que é muito mais trágico e, por que não dizê-lo, de solução quase impossível.
Todos nós sabemos que as fronteiras coloniais nunca foram fronteiras naturais, tendo sido estabelecidas pelo simples entendimento entre as nações europeias adoptando os critérios da divisão do bolo, portanto, com limites falsos. E foi assim que se pretendeu fazer viver em comum povos que nem a raça, nem a língua, nem a religião, nem os interesses, predispunham a pertencer ao mesmo Estado. Houve mesmo fronteiras ditas naturais que separaram os próprios irmãos, como os Somalis, submetidos durante anos a cinco domínios: o italiano a Mogadíscio, o britânico em Berbera, o francês em Djibouti, o etíope em Ogaden, e a queniana no Oeste. O Zaire não escapa também a esse fenómeno, e as várias convulsões por que tem passado são, -com a ajuda de interesses externos, complementados pela ambição desmedida dos novos mandantes, fruto da passagem rápida e sem transição da era da zorra à do avião - motivadas, em grande parte, por questões tribais transmitidas de geração para geração. O genocídio está em vias de ser considerado uma prática comum...
Não resisto a citar o poeta ugandês Okot Bitek: "O rio de sangue que a África verteu depois das independências, é mais largo e mais longo que o poderoso Nilo. Os refugiados africanos são tão numerosos como as nuvens de gafanhotos. As nossas prisões estão a abarrotar de presos políticos..."
Tudo isto para concluir que vem longe o dia em que todos os habitantes e em especial as crianças, possam usufruir do bem-estar, da tranquilidade e da paz que alguns homens, desconhecedores da realidade do Continente Africano, prometeram a seus pais, há mais de cinco décadas.
Lembrei-me deste  texto que escrevi em 1997 e que foi  traduzido para neerlandês e publicado em 1997 no semanário belga “Delta” ao ler há dias o apelo de D. François Xavier Maroy Rusengo, arcebispo de Bukavu, que de visita a Portugal, pediu que rezassem pela paz na Republica Democrática do Congo. Um País que 53 anos depois da independência continua a ser palco de guerras, de mortes, de violações e de lágrimas. Um exemplo de como a impunidade transforma um País rico num rio de sangue.



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