A
partir de certa idade parece que o tempo passa mais depressa, que passa a
correr, sem quase nos apercebermos.
Parece
que os anos, à semelhança dos bólides modernos, circulam a uma velocidade tal,
que nem dá tempo para apreciar a paisagem.
É
como se viajássemos numa cápsula com janelas de vidros foscos donde apenas se
vê o desfilar de sombras, a passagem de objectos sem contornos definidos, a
sucessão de imagens fantasmagóricas – tudo isso perpassando ao som do barulho
infernal das preocupações do dia-a-dia que nos contagiam e se apossam das
nossas mentes.
Nesta
sociedade materialista que nos comanda e escraviza, nada podemos fazer para nos
libertarmos desta engrenagem maldita a que por obra e graça do progresso fomos
acorrentados. Elos da mesma cadeia, parte do mesmo todo, giramos à volta do
mesmo eixo e sofremos a influência dos mesmos ventos.
Toda
esta corrida desenfreada da vida moderna roubou-nos a paz de espírito, a
religiosidade do silêncio de outrora e o sonho de sermos interiormente livres,
o sonhos da criança que fomos!
E
assim vai passando o tempo. Veloz, indiferente à nossa insatisfação, aos nossos
desenganos, às nossas frustrações e aos nossos queixumes. É assim o jogo
quotidiano da própria vida, feito de competições e indiferenças!
Mas
mesmo assim todos os dias fazemos planos, todos os dias gizamos projectos,
todos os dias acalentamos esperanças, mesmo correndo o risco de ver o sonho
transformado em pesadelo!... Mas é a voz da esperança a incutir
"alma" no vazio da crescente desumanização; é um convite para
reforçar, – neste tempo sem tempo em que vivemos – o hino à vida, fazendo
ressuscitar o sonho perdido por intermédio de uma poesia humanista e
solidária...
Falo
de poesia, mas não sou poeta. O poeta é aquele que sente de outra forma. O
poeta não se faz, o poeta nasce. O verdadeiro poeta aprofunda sentimentos e
vivências e faz descobrir nas pequenas coisas grandes coisas, mostrando-nos
que, afinal, o que somos e o que fazemos tem uma razão de ser mais profunda do
que aquilo que pensamos. Há quem diga que a poesia é o homem. E como o homem
tem sempre uma paixão a construir, um sonho a desabrochar, um combate a travar
ou uma felicidade a atingir, a poesia tudo isso contém: amor, emoção, luta,
esperança – uma amálgama de religiosidade e de mistério que são, afinal, os
ingredientes de que é feita a vida. O tempo voa. Foge... Mas não será o tempo
um aliado que Deus nos deu? Não é ele que dá consistência e valor às coisas?
Quanto mais tempo passa, menos doem os desgostos... Façamos então dele um
poema. Aliás, como disse o poeta, «uma hora não é uma hora. É um vaso cheio de
perfumes, de sons, de projectos, de alegrias e de esperanças...»