Apesar de
já ser longa a minha caminhada pelos trilhos da Vida, e apesar dos muitos
obstáculos que já transpus, há dias em que me é difícil lidar com os embustes e
as armadilhas que aparecem no percurso. E é então que esqueço o que me rodeia e dou asas à imaginação, que voa, rodopia, desce,
sobe, sempre em torno do mesmo eixo - A Vida. A Vida no seu dia-a-dia cada vez
mais materialista, mais cheio de risos amarelos, de sorrisos irónicos, de
olhares de soslaio que mais parecem armas de agressão!
É
assim a sociedade de hoje, competitiva, apressada, hipócrita e egoísta. Não há
tempo sequer para uma introspecção serena e desapaixonada. Vive-se rodeado de
uma corte de fingidos, de snobes, de manequins de plástico e de bonecas fúteis,
cheias por fora e vazias por dentro. O que importa é aparentar uma imagem
adaptada aos ventos que sopram - roupagens da moda, altivez a condizer, e esse
ar de gente fina, com olhar distante, mas vistas curtas. Imitar, fazer de
conta. Aparentar o que se não é. E não esquecer a regra fundamental da
irmandade: bajular na frente e caluniar nas costas.
Tropeçamos
a cada passo com abusos da riqueza. O esbanjamento e a ostentação sempre a
correr, imprimem uma velocidade tal aos nossos neurónios, que somos obrigados a
interromper o raciocínio para não enlouquecermos. Mas mesmo assim,
frequentemente, não resistimos à tentação de perguntarmos a nós próprios, que
trabalhámos uma vida inteira e continuamos a trabalhar, como é possível,
angariar fortunas em tão curto espaço de tempo e, aparentemente, sem grande
esforço?!...
Talvez
seja esse mais um "milagre" desta sociedade, que criámos. Todos sem
excepção. Uns por vontade própria, outros porque não tiveram coragem de se
oporem, acomodando-se e sujeitando-se aos caprichos e desvarios dos mais fortes.
Não há, pois, razões para queixas. Não há lugar para invejas, nem fundamento
para acusações. Nem a Natureza, nem as leis que estiveram na formação da
Civilização, têm quaisquer culpas. O Homem é o único culpado. Todos somos
cúmplices. E não é por acaso que as nossas reacções a factos que deveriam ser
denunciados, se ficam apenas por um simples encolher de ombros. É o egoísmo a
mandar, é o comodismo a sobrepor-se à personalidade e a transformar-nos em
"escravos modernos" às ordens de "novos senhores". Os
abusos da tecnocracia e os excessos do capitalismo financeiro, ao mesmo tempo
que criaram novas classes sociais, originaram também novas injustiças. Quando
numa sociedade o dinheiro se sobrepõe à inteligência, à humildade, à
solidariedade, e à generosidade, é caso para nos interrogarmos sobre o seu futuro.
Esse futuro desejado por todos - um futuro com uma nova doutrina social justa e
humanista, em que as pessoas estejam acima dos números…
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