Às
vezes passam-me coisas pela cabeça que se me atrevesse a confiá-las ao papel, de
duas e uma: ou me colavam um rótulo de maluco na testa, encolhiam os ombros e
não ligavam patavina, ou então eram capazes de me armar algum trinta e um que faziam com que
ficasse mesmo doido a sério. Safa!...
«Então,
cala a boca Manel e não te metas com esses proxenetas da política, porque,
afinal, foste tu, eu, e os outros que contribuímos para que eles subissem aos
lugares cimeiros que ocupam. Pensavas que bastava substituir as “rosas” por um “laranjal”
- agora moribundo e invadido pela cochonilha e pela ferrugem – para termos uma
nova mancha verde, sem ervas daninhas, sem podridão e sem parasitas?
Ingénuos
que fomos, estúpido que és!... Já Alexandre Herculano há muitos anos escreveu
que " a história política é uma série de desconchavos, de torpezas, de
inépcias, de incoerências, ligadas a um pensamento constante - que é o de
enriquecerem os chefes de partido..." E se nessa altura ele se referia
apenas aos chefes, hoje há que incluir também todos os seguidores de suas
excelências: familiares, amigos, afilhados, recomendados, amásias e demais
pessoal, democraticamente ligado à nobre causa de enriquecer sem trabalhar.
Quanto
a maneiras de pensar e agir, estamos conversados!
Político
é político e interpretar o que dizem ou explicar o porquê daquilo que fazem, é
um segredo da classe, embora quase sempre haja um cheirinho a dinheiro que se
escapa pelo testo da panela... ou do tacho!
Desemprego,
miséria, exclusão social, deficiências na Educação, na Justiça, na Saúde, tudo isso é triste , tudo isso é verdade, mas
passa ao lado de suas excelências.
O
que é preciso, Manel, é distrair a malta e bem sabes que, para isso, nada melhor
que um desafio de futebol entre os grandes ou um escandalozito entre a nossa
elite, essa gente fina. E isso não falta…
E
é assim que o país mais parece uma lotaria, em que uns nascem na lama e outros
nas nuvens; em que uns morrem de fome e outros morrem de fartura.
Aproxima-se
uma nova campanha de caça ao voto. Vem aí outra mudança? Não sei se já notaste,
mas a fila dos putativos candidatos aos “tachos” já vai longa. Todos eles
querem emprego, que não trabalho. Já há alfaiates a virar casacas. Na dúvida…
E
todos, na nossa infinita e pacata desordem existencial, achamos todos esses
“procedimentos” normais e nada mais fazemos do que encolher os ombros. E tu
vais votar?…»
E
eu, portuguesmente, limitei-me a encolher os ombros!...
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