Dizia o saudoso filósofo e pensador
Agostinho Silva que não pagava impostos "porque não sabia para onde iria o
seu dinheiro...". Rematava o seu pensamento afirmando que quando lhe
dissessem, e ele efectivamente visse como e onde era aplicada a sua
contribuição, então pagaria. Dei comigo a pensar nessas palavras sábias quando
há dias, mentalmente, estabelecia a comparação entre as carências com que se
debatem os mais necessitados e o esbanjamento de dinheiro feito por muitos dos
nossos mandantes fanfarrões.
De facto, e sem termos necessidade de
nos deslocar para muito longe, verificamos que o exagero em festas e foguetório
começa a mexer com os nervos de muita gente.
A propósito de tudo e de nada organizam-se
as mais incríveis manifestações folclóricas que (ou será o meu anquilosado
raciocínio a falsear a verdade?!), servem apenas para tapar olhos e desviar a
atenção do povoléu das misérias com que é confrontado todos os dias.
Aliado a esse facto, o desleixo que
impera na vigilância daqueles a quem pagamos para zelar pelo bem comum, é
deveras revoltante! Para explicar melhor, e para aqueles que se quiserem dar a
esse cuidado, observar uma brigada de funcionários do Estado quando efectue
qualquer trabalho na via pública, é o exemplo mais flagrante de todo esse
"faz-de-conta" que reina no País. Ninguém vigia ninguém e, dizem
eles, filosoficamente,
que o trabalho não é para se acabar, mas para se ir fazendo...
E enquanto os indiferentes e acomodados
dizem que "sempre assim foi", os próprios visados queixam-se de que
até trabalham de mais para os salários que auferem!
Entrementes, o Zé vai aturando todo este
regabofe, acabando sempre por pagar a louça partida pelos elefantes que,
constantemente, atravessam a loja.
Independentemente do juízo de valor que
cada um possa fazer do que acima disse, não há dúvidas que este estado de
coisas é gerador de grandes injustiças. Só os autistas não se dão conta de que
o País vive uma fase de descalabro económico, agravada ainda mais pelo
crescimento descontrolado de uma classe parasitária habilidosamente disfarçada
sob os mais diversos e pretensos eventos culturais.
Por mais que afirmem o contrário não há
outra via de salvação que não seja a do trabalho. Mas do trabalho que sirva o
Homem e as suas comunidades e não o trabalho fingido de que o Homem se sirva
apenas para gozo dos seus apetites e vaidades.
Retomando o mote desta crónica, seria de
facto justo, honesto, transparente e democrático que o contribuinte soubesse para
onde vão, e como são aplicados os dinheiros que deposita nos cofres do Estado.
Utopia, claro!... Mas se fosse possível,
seriam muitas as surpresas. Ou talvez não.
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