Ontem
andei pela parte antiga da minha aldeia. Fui revisitar o bairro que,
antigamente, era habitado pela “nobreza”, por gente rica que detinha o “poder”
e a quem todos tiravam o chapéu.
E
ali me quedei olhando aquelas casas, aquelas paredes velhas, aqueles telhados
em ruínas, aqueles portões ferrugentos e aquelas árvores antigas.
Há
bem pouco tempo a palmeira da minha juventude ainda lá estava. Teimosa, já
quase sem ramos, ela ali se mantinha a desafiar o tempo, como que a atestar a
antiguidade e o simbolismo do famoso largo.
Recordo
ainda as variadas cores das flores das cameleiras que espreitavam por detrás
dos altos muros da quinta, enfeitados, na Primavera, pelos rendilhados de flores
das glicínias! …
Mesmo
ao lado, a Farmácia… E lá “estava” o farmacêutico, amante da caça e sábio
apicultor, rodeado de frascos com rótulos em letra barriguda, alinhados em
prateleiras de armários envidraçados.
Um
balcão carunchoso, uma balança da época e um cepo de madeira, esburacado, onde
se anichavam os pesos.
Ao
lado, um almofariz, alfaia essencial para misturar e triturar os ingredientes
que o médico tinha rabiscado na receita. Frasco daqui, frasco dacolá, pó deste,
mais pó daquele, pesa, junta, tritura, mexe… e receita aviada!
Ainda
não existiam os antibióticos, as penicilinas e outros que tais e, por isso,
todos os medicamentos eram “sãos”: além dos preparados, as papas de linhaça, os
sinapismos, os xaropes de fabrico caseiro, eram os remédios mais usados naquele
tempo!...
Mas
havia menos doenças. Era raro ver-se por aqui o médico. E quando vinha era um
acontecimento que atraía toda a pequenada da povoação. Todos iam vê-lo chegar
no seu automóvel, “coisa” rara naquele tempo. Quando o chamavam para uma
povoação na Serra, como não havia caminho próprio, traziam um burro ou um
cavalo para o levar…
Outra
rua ali. Antiga, estreita, feita à medida dos carros de bois e que vai até à
velha escola. A minha escola. Em tudo diferente da escola de hoje. Mais
austera, mais exigente, mas (que me perdoem os mestres de agora…) talvez mais
escola no que à língua materna diz respeito.
Olho
agora em frente. A Igreja e o casario moderno. E tudo muda. Casas novas que
contrastam com as velhas aqui ao lado. É quase como que uma ruptura com o
passado. São casas novas, ainda sem uma história como a daquelas que lá no
Fundo da Rua, aos poucos, se vão desmoronando.
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