Há
na vida de cada um de nós acontecimentos marcantes que quando os vivemos, nos
fazem recuar no tempo e nos conduzem ao início do caminho percorrido.
E
à medida que os anos se vão acumulando parece ter mais sabor essa imaginária
viagem de regresso ao princípio da caminhada!
Apesar
de o passado ser construído por uma cadeia de acontecimentos, nem todos os seus
elos são iguais. Nem todos eles desempenharam igual papel, nem todos prenderam da mesma maneira
– enquanto uns deram poesia às coisas, outros ensarilharam-se e, muitas vezes,
emperraram a continuidade do trajecto.
Mas
é dos primeiros, daqueles que me prenderam à vida com ternura, que me fizeram
sonhar, que depois me acordaram para enfrentar a realidade e a seguir me
colocaram no caminho da responsabilidade, – são esses elos, esses momentos, que
mais gosto de recordar. Ao lembrá-los, é quase como que ingerir uma poção
mágica que me dá ânimo e traz de volta quimeras e sonhos!
É
uma espécie de pausa, uma interrupção no percurso e um repouso tranquilo
rodeado da utopia que ainda me resta…
Mas,
às vezes, a desilusão é mais forte, e há dias ou momentos em que sinto
necessidade de me isolar, de fugir deste baile de interesses, deste
materialismo galopante, desta falta de ética no comportamento das pessoas. Cansa-me
este jogo do quotidiano feito de competições e de indiferenças, de hipocrisias
e de cinismos, de subtilezas e de astúcias, de vigaristas transformados em
heróis…Pouco falta para que até a esperança pague imposto!
Num
mundo construído sob o signo do dinheiro e em que tanto se fala em
solidariedade, entristece-me que ela não seja aplicada na prática. O ter é mais
importante que o ser…
Falta
mais alma, mais responsabilidade, mais altruísmo, mais espiritualidade pois só
assim poderá ser vencida esta crescente desumanização a que, passivos e
indiferentes, assistimos todos os dias.
É
preciso acreditar, persistir e não ter medo de expor a nossa Fé. É necessário
proclamar e exibir os valores que herdámos dos nossos pais que selavam um compromisso, com uma palavra
de honra.
Às
vezes, perante tanta injustiça, tanta falta de valores, tanto desrespeito,
sobretudo pelos mais carecidos, apetece-me gritar e acusar tudo e todos…
Porém,
é a família, os amigos, mas sobretudo os filhos e os netos que contrabalançam
esta revolta interior e me ajudem a ultrapassar tudo isso e a ir tentando
adaptar-me a esta nova visão de encarar a vida…
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