Estava na sala, pantufas nos pés,
recostado no sofá, quando bateram à porta. Pouco passava da meia-noite...
Fiquei um pouco intrigado dado o
avançado da hora, mas sem outra alternativa, porque estava só, levantei-me, fui
até à porta e perguntei quem era e qual o pretexto da visita.
À minha interrogação respondeu alguém
com voz rouca, uma voz cujo timbre me pareceu familiar:
«- Sou o Tempo, e venho trazer-lhe a sua
prenda anual. Venho a desoras, pois eu não tenho horários e ando sempre a
girar…
Abri a porta, mandei entrar e o mensageiro
continuou:
- Este ano a prenda vem disfarçada de
substantivo feminino e, como se pode ler tanto da esquerda para a direita, como
da direita para a esquerda, os “homens das gramáticas” deram-lhe o nome de
capicua – 88!..
Este número, meu caro senhor, o número
8, agora duplicado, e de acordo com as leis pitagóricas continua a ser uma
espécie de enigma, que como todos os enigmas, é muito difícil de desvendar.
É mágico este algarismo!...
É um número que começou a ser desenhado na
Índia. No começo era uma espécie de rabisco em ziguezague. A sua forma foi
evoluindo, a sua imagem gráfica foi-se afastando da inicial, pois era muito
parecida com a do 5, e adquiriu depois uma aura especial, uma espécie de
magia...
Veja o senhor que os Chineses até lhe atribuem
propriedades benévolas: é o número da prosperidade, da fortuna e da riqueza. Números
de telefone, matrículas de automóveis e até os bilhetes das lotarias terminados
em 8 ou 88 valem fortunas!
No género humano a sua duplicação
transcende a matéria e é responsável pela conexão entre os planos físico e
espiritual.
A sua repetição – a tal capicua – quando
se trata de datas de nascimento é considerada de bom augúrio para todos aqueles
que acalentam o sonho de atingir os cem anos de longevidade!
E eu sei, meu caro senhor, que é esse o
seu sonho...»
Bruxo!... Foi o que me apeteceu
responder…
Porém, contive-me e em vez disso
limitei-me a agradecer, manifestando-lhe o meu desejo de o ver novamente na
mesma data em 2015.
Acompanhei o mensageiro até à porta e
quando estendi o braço para a fechar, toquei no copo que estava na mesinha de
cabeceira… e acordei!...
O barulho dos cacos também acordou minha
mulher, que quis saber o que tinha acontecido.
- Nada de especial, foi mais um. Mais um
copo… metaforizei.
Ele há sonhos que até parecem reais!...
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