domingo, agosto 24, 2014

DO SONHO À REALIDADE


Estava na sala, pantufas nos pés, recostado no sofá, quando bateram à porta. Pouco passava da meia-noite...
Fiquei um pouco intrigado dado o avançado da hora, mas sem outra alternativa, porque estava só, levantei-me, fui até à porta e perguntei quem era e qual o pretexto da visita.
À minha interrogação respondeu alguém com voz rouca, uma voz cujo timbre me pareceu familiar: 
«- Sou o Tempo, e venho trazer-lhe a sua prenda anual. Venho a desoras, pois eu não tenho horários e ando sempre a girar…
Abri a porta, mandei entrar e o mensageiro continuou:
- Este ano a prenda vem disfarçada de substantivo feminino e, como se pode ler tanto da esquerda para a direita, como da direita para a esquerda, os “homens das gramáticas” deram-lhe o nome de capicua – 88!..
Este número, meu caro senhor, o número 8, agora duplicado, e de acordo com as leis pitagóricas continua a ser uma espécie de enigma, que como todos os enigmas, é muito difícil de desvendar.
É mágico este algarismo!...
É um número que começou a ser desenhado na Índia. No começo era uma espécie de rabisco em ziguezague. A sua forma foi evoluindo, a sua imagem gráfica foi-se afastando da inicial, pois era muito parecida com a do 5, e adquiriu depois uma aura especial, uma espécie de magia...
Veja o senhor que os Chineses até lhe atribuem propriedades benévolas: é o número da prosperidade, da fortuna e da riqueza. Números de telefone, matrículas de automóveis e até os bilhetes das lotarias terminados em 8 ou 88 valem fortunas!  
No género humano a sua duplicação transcende a matéria e é responsável pela conexão entre os planos físico e espiritual.
A sua repetição – a tal capicua – quando se trata de datas de nascimento é considerada de bom augúrio para todos aqueles que acalentam o sonho de atingir os cem anos de longevidade!
E eu sei, meu caro senhor, que é esse o seu sonho...»
Bruxo!... Foi o que me apeteceu responder…
Porém, contive-me e em vez disso limitei-me a agradecer, manifestando-lhe o meu desejo de o ver novamente na mesma data em 2015.
Acompanhei o mensageiro até à porta e quando estendi o braço para a fechar, toquei no copo que estava na mesinha de cabeceira… e acordei!...
O barulho dos cacos também acordou minha mulher, que quis saber o que tinha acontecido.
- Nada de especial, foi mais um. Mais um copo… metaforizei.
Ele há sonhos que até parecem reais!...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 

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