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de duzentos anos antes de Jesus Cristo, viveu um homem cujo saber se repartia
por várias áreas – matemática, física, geometria e engenharia.
Chamava-se
Arquimedes e dizem velhos manuscritos que ele tinha residência em Siracusa, uma
cidade da grande ilha da Sicília, nessa altura, creio eu, sob o domínio dos
Romanos.
Arquimedes
fez inúmeros trabalhos no âmbito das ciências que dominava, tendo calculado as
áreas da parábola, da elipse, da esfera e do cilindro. Estabeleceu também a o
valor de “pi” que, como os leitores sabem, é o símbolo que representa a razão
constante entre o perímetro do círculo e o comprimento do seu diâmetro.
Enunciou
ainda vários princípios, mas os que
ainda hoje são mais conhecidos e usados, embora com designações diferentes, são
o da Estática e o da Hidrostática – o primeiro por causa daquela barra a que se
chama alavanca, e o segundo porque diz respeito à flutuação.
Mas
o progresso e a evolução fizeram das suas…
O
da alavanca passou a ter vários sinónimos: cunha, compadrio, influência,
recomendação e é hoje de grande importância na vida dos portugueses.
O
outro, que teria sido descoberto pelo sábio quando tomava banho na sua tina,
não deixa de ter uma singularidade ímpar. É que, mesmo sem ninguém lhe ter
oferecido flores, o sábio sentiu um impulso!... E, desorientado,
levantou-se, voltou a sentar-se, apalpou, remexeu … até que descobriu,
finalmente, o princípio!...
Porém
e como acima dissemos, com a cumplicidade das novas tecnologias e da galopante onda
de modernidade que tudo transforma, o enunciado do princípio de Arquimedes,
foi-se adulterando até que alguém se lembrou de o democratizar!
E
foi nessa altura que os políticos entraram na dança…
E
então o princípio subiu os degraus do
Parlamento, foi motivo de acalorado debate, sofreu alterações pouco ortodoxas,
mas, no entanto, lá conseguiu livrar-se do referendo reclamado pela oposição.
Terminada
a sessão, e ao sair do hemiciclo, o
princípio, não só trazia fatiota nova – uma indumentária furta-cores,
género carapaça de camaleão – mas também um enunciado democrático a condizer: «todo o cidadão que tem a sorte de
mergulhar na política, beneficia de um empurrão de baixo para cima, que se
traduz sempre num montante de euros superior, tanto ao trabalho como ao seu
coeficiente intelectual…»
Desde
então o Povo rebaptizou-o e passou a chamar-lhe o princípio dos «Arquimerdas»…
E
assim, o que a hidrostática perdeu em equilíbrio, ganhou a política em
majestade… Uma majestade mal cheirosa, claro está!...