A
turbulência política, social e económica é a nota dominante do dia-a-dia
português. E nada indica que essa turbação tanto nas coisas como nos espíritos
tenha o fim à vista.
É
tão confuso este ambiente de ordens e contra-ordens, de afirmações e de
desmentidos, de leis e de contra leis, de reticências e de ziguezagues, que o
caminho da razão, do bom senso, e da justiça parece ser cada vez mais difícil
de reencontrar.
Diziam
os nossos Avós que «onde todos mandam, ninguém manda, onde todos falam ninguém
se entende e onde todos roubam, não há ladrões...» E por mais que isso nos
custe a admitir, o certo é que, entre nós, e em cada dia que passa, o
verdadeiro conceito do antigo ditado está a tornar-se cada vez mais evidente.
Há
situações em que é difícil saber quem manda. E se aprofundarmos bem, acabamos
por concluir que mandam todos - mandam os políticos do governo, mandam os da
oposição, mandam os deputados da maioria, mandam os da minoria, mandam os
secretários, mandam os subsecretários, mandam os presidentes, mandam os
tesoureiros, tudo manda, minha gente!
Quanto
a falar, todos falam, e embora poucos digam alguma coisa de jeito, ninguém se
entende porque cada qual quer fazer prevalecer o seu ponto de vista. Certo ou
errado, não importa...
No
que diz respeito à última parte do ditado, ao roubo - alto e pára o baile! O
roubo é façanha dos pequenos. Os grandes, não roubam, "desviam"!... E
a nova estratégia que dá pelo nome da tal famosa e badalada engenharia financeira, que em
dois tempos e quatro movimentos faz do mais famigerado ladrão, o mais impoluto
dos cidadãos. E assim vamos vivendo «no melhor dos mundos possíveis»,
subscrevendo a afirmação de um senhor chamado Pangloss que, - não sei se com
alguma coerência e razão – sustentava que tudo acontece porque tem mesmo de
acontecer.
E
assim, talvez por fatalismo ou falta de coragem, ninguém reage. É o deixa
andar. Quanto mais confusão melhor. O país é uma espécie de terreno inculto em
que o matagal esconde a mais variada e esquisita fauna – uma espécie de reino
da bicharada. E aí o bicho homem passou a ser avaliado não pela sua
competência, pela sua honestidade, pelo seu aprumo moral e intelectual, mas só
e apenas porque pertence a uma determinada classe de privilegiados para a qual,
quanto mais trabalhamos, mais nos é exigido...
A
contrastar com os principescos salários e inúmeras benesses dessa classe,
deparamos com pensões de miséria de milhões de portugueses que tentam sobreviver.
A ganância e a luta pelo dinheiro deram origem a um desprezo total pelos
designados códigos de honra. Hoje o dinheiro compra tudo – “a honestidade dos
homens é regulada por uma tarifa. Cada consciência tem o seu preço...” e o
dinheiro comanda a vida. Talvez a comparação seja exagerada, mas Roma caiu
quando à produção de riqueza útil, sucedeu o reinado do dinheiro fácil com toda
a sua habitual comitiva de arbitrariedades e injustiças.