sábado, maio 10, 2014

PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTA...


Nos fins do século dezassete e começos do século dezoito, os portugueses foram motivo de troça para todos os estrangeiros devido à sua mania dos óculos. O escritor, La Brue, no seu livro Voyage à Cacheu, descreve um salteador alentejano que antes de aperrar o seu bacamarte, «ata às orelhas os seus grande óculos portugueses de presilha de coiro...»
Mais escritores se referiram ao assunto e até Montesquieu, o príncipe dos impertinentes do seu tempo, escreve no seu livro, Lettres Persanes, que a importância e o carácter dos portugueses «se ostentavam principalmente de duas maneiras: pelos óculos e pelo bigode... (...) O português e o espanhol usam vidraças nos olhos porque pensam que os óculos conferem àqueles que os usam um ar de sapiência e de intelectualidade...»
Os óculos, pelo que nos contam os livros, eram como que um distintivo de superioridade intelectual, um luxo e uma maneira de ostentar qualidades que muitas vezes os seus portadores não possuíam. Uns óculos encavalitados no nariz de qualquer «palerma» ou de qualquer «estúpido» eram uma espécie de tira-nódoas ou um diploma que, numa primeira fase branqueava a incompetência, e na segunda conferia um certificado de erudição e sapiência. Falsos, evidentemente...
Esta lengalenga toda para vos dizer que comparo muito essa mania dos óculos dos séculos XVII e XVIII, à actual «moda» do «dê erre", pois por detrás dele esconde-se muita ignorância, muita vaidade, muita soberba e muita prepotência!
A doutorice é, no nosso país, uma epidemia. Qualquer técnico e seja qual for o sector profissional em que trabalha, o que ambiciona é ser tratado por doutor ou engenheiro.
Se formos para o sector público, então aí o contágio dá-se tão rapidamente que nem há período de "incubação". Há casos em que o «recruta», graças à cunha ou ao tráfico de influências, entra por uma porta e quase sem ter tempo para abotoar os botões da farda, sai pela outra já "pendurado" num dos respectivos distintivos: o de doutor ou o de engenheiro!...
Que fique bem claro que não estou a referir-me aos doutores verdadeiros, porque esses, - uns por modéstia, outros porque não querem misturas- não gostam que os tratem por aquilo que verdadeiramente são. Refiro-me, isso sim, a esses “doutoraços” incompetentes, cheios de vaidade e vazios de conteúdo, que se passeiam por aí… Fazem lembrar os balões dos arraiais de Verão – basta uma pequena subida de “temperatura” para que estoirem!
Lembram-se da fábula de La Fontaine, que conta a história do “Sapo e do Boi”?!...
 

 

 

Sem comentários: