Nos fins do século dezassete e
começos do século dezoito, os portugueses foram motivo de troça para todos os
estrangeiros devido à sua mania dos óculos. O escritor, La Brue, no seu livro Voyage à Cacheu, descreve um salteador
alentejano que antes de aperrar o seu bacamarte, «ata às orelhas os seus grande óculos portugueses de presilha de
coiro...»
Mais escritores se referiram ao
assunto e até Montesquieu, o príncipe dos impertinentes do seu tempo, escreve
no seu livro, Lettres Persanes, que a
importância e o carácter dos portugueses «se
ostentavam principalmente de duas
maneiras: pelos óculos e pelo bigode... (...) O português e o espanhol usam vidraças nos olhos porque pensam que os
óculos conferem àqueles que os usam um ar de sapiência e de intelectualidade...»
Os óculos, pelo que nos contam os
livros, eram como que um distintivo de superioridade intelectual, um luxo e uma
maneira de ostentar qualidades que muitas vezes os seus portadores não
possuíam. Uns óculos encavalitados no nariz de qualquer «palerma» ou de
qualquer «estúpido» eram uma espécie de tira-nódoas ou um diploma que, numa
primeira fase branqueava a incompetência, e na segunda conferia um certificado
de erudição e sapiência. Falsos, evidentemente...
Esta lengalenga toda para vos
dizer que comparo muito essa mania dos óculos dos séculos XVII e XVIII, à
actual «moda» do «dê erre", pois por detrás dele esconde-se muita
ignorância, muita vaidade, muita soberba e muita prepotência!
A doutorice é, no nosso país, uma
epidemia. Qualquer técnico e seja qual for o sector profissional em que
trabalha, o que ambiciona é ser tratado por doutor ou engenheiro.
Se formos para o sector público,
então aí o contágio dá-se tão rapidamente que nem há período de
"incubação". Há casos em que o «recruta», graças à cunha ou ao
tráfico de influências, entra por uma porta e quase sem ter tempo para abotoar
os botões da farda, sai pela outra já "pendurado" num dos respectivos
distintivos: o de doutor ou o de engenheiro!...
Que fique bem claro que não estou
a referir-me aos doutores verdadeiros, porque esses, - uns por modéstia, outros
porque não querem misturas- não gostam que os tratem por aquilo que
verdadeiramente são. Refiro-me, isso sim, a esses “doutoraços” incompetentes,
cheios de vaidade e vazios de conteúdo, que se passeiam por aí… Fazem lembrar os
balões dos arraiais de Verão – basta uma pequena subida de “temperatura” para
que estoirem!
Lembram-se da fábula de La
Fontaine, que conta a história do “Sapo e do Boi”?!...
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