sábado, maio 17, 2014

QUE DEMOCRACIA É ESTA?

 A minha crónica da semana passada tinha a ver com factos explicados na reportagem inserida nessa edição acerca da polémica que se instalou na União de Freguesias do Barreiro e Tourigo, mormente com a tentativa de dissuadir o porta-voz do “Movimento Cívico do Tourigo e Pousadas” de se pronunciar na Assembleia da Câmara Municipal.
Não vou entrar em pormenores uma vez que a referida reportagem é bem explícita quanto aos factos que motivaram o diferendo existente.
No entanto, permitam-me que transcreva um pequeno excerto do que escrevi neste Jornal em 09 de Agosto de 2012: «…) Ora sendo a totalidade das Freguesias da mesma cor política (PSD) tal como a Câmara, que detém a maioria, isso não tornaria mais fácil encontrar consenso para propor ao Governo uma solução para o concelho, em vez de receber dele o figurino com o seu corte e costura? A quem cabe a responsabilidade da inacção? Quase apetece perguntar por onde anda a Comissão Política Concelhia que detém as Freguesias? O Povo pode não ter cursos, mesmo esses da era moderna, mas não é burro.»
E agora pergunto: Que razões políticas ou outras motivaram a extinção de uma Freguesia com 600 eleitores e com todos os serviços necessários à sua continuidade? Para quem não sabe, aqui fica um “inventário” desses serviços: uma Igreja Matriz com Salão Paroquial/Casa Mortuária; uma Escola Básica; um Jardim de Infância; uma Oficina de Serralharia e Canalização; uma de Carpintaria; um Salão de Cabeleireiro Unissexo; duas Padarias- a Touricon e a Regional; um Centro Social com Apoio Domiciliário e Centro de Dia; um Centro Cultural e Desportivo com Agência de todos os Jogos da Santa Casa; uma Caixa Multibanco; um Centro Cultural nas Pousadas; um Estabelecimento de venda de leitões assados; uma Farmácia; um Restaurante; um Comércio de Mercearias e outros; um Estabelecimento de Alfaiataria com um Pronto-a-Vestir; três Empresas de Comércio de Madeiras; uma de Materiais de Construção; um Posto de venda de Combustíveis; uma Zona de Lazer com Bar, piscina e pavilhão de eventos; um Campo de futebol de onze; um Polidesportivo, Balneários bem apetrechados; uma Associação Folclórica- AFERT, que tem promovido grandes e importantes eventos com um Rancho e um Grupo de Cavaquinhos; uma Estação de Arte Rupestre no Valeiro da Ferradura…e até um cemitério onde repousam os nossos antepassados e para onde também iremos um dia.
O consenso a que então me referia foi o que está à vista – a extinção pura e simples da Freguesia sem sequer haver qualquer diálogo com as populações. Agora, politicamente, não há culpados. E se alguém reclama o que lhe é devido, ainda tentam impedir que a sua voz seja ouvida publicamente!  
Comemoraram-se há pouco os quarenta anos de Democracia. Mas qual Democracia? A do Povo ou a dos políticos?....
Manuel Ventura da Costa in Jornal de Tondela de 15 de Maio de 2014

 

 

 

 

sábado, maio 10, 2014

INDIGNAÇÃO

Continua ainda a haver muitos ingénuos que olham para os mandantes como se eles fossem uma espécie de deuses intocáveis. E refiro-me a todos eles. Desde o topo da pirâmide ao mais baixo posto de chefia.
Uma vez “investidos” no cargo, fazem-se donos e senhores da “coutada”. De repente, esquecem que somos nós – primeiro com o nosso voto e depois com os nossos impostos - que fazemos com que eles se eternizem nos lugares que ocupam. Esquecem também que as obras que fazem, somos nós que as pagamos… Daí que logicamente quando pagamos, queremos ser bem servidos. E justamente recompensados. Não com dinheiro, mas pelo menos com o cumprimento daquilo que prometeram quando os elegemos.
Não obstante haver quem bata palmas na rua e refile dentro de casa, outros - como é o meu caso - estão no seu pleno direito de, com honestidade e sem demagogias, denunciar publicamente as injustiças ou as desigualdades de que são testemunhas.
Neste lodaçal de hipocrisias e mentiras em que estamos atascados, e embora sejamos cada vez menos os que não têm rabos-de-palha, devemos saber fazer a diferença não nos deixando enganar por mercenários da política que tudo fazem para nos calar quando exercemos o nosso direito de denunciar situações que vão de encontro às suas ardilosas combinações ou mexem com planos previamente arquitectados entre eles.
Salvo raras excepções estamos a ser governados por gente vaidosa, arrogante, egoísta e interesseira, que tem em conta apenas, e só, os seus interesses pessoais.
Houve um tempo em que se dizia que antes de fazer algo de menos correcto se devia pôr a mão na consciência - nossa conselheira. Esse tempo passou e agora em vez da voz da consciência é a dos interesses pessoais que impera…
No entanto, a honra continua a ser a nossa identidade. Mesmo que seja um bem imaterial e incomparável, é também insubstituível. Perdê-la, é perder a nossa referência como seres humanos.
Já no tempo da ditadura os políticos diziam que não se pode governar contra a vontade do Povo. Foi-se a ditadura e com o advento da democracia foram muitos os que acreditaram que a partir daí se passasse da teoria à prática. Puro engano. O Povo continua a ser ignorado e ludibriado por gente sem escrúpulos.    
Hoje, por falta de espaço, não é possível exemplificar com factos uma dessas recentes e indecorosas manobras numa tentativa de fazer calar a voz do Povo. Entretanto, e por agora, aqui fica registada a minha indignação.
 

ANTIGAMENTE A ESCOLA ERA RISONHA E FRANCA

 Há dias, falando de ensino e de comportamentos, quando citei como termo de comparação a primeira frase do poema de Acácio Antunes que serve de título à minha crónica de hoje, talvez influenciada por estes ventos de Abril, grande parte dos presentes quase me amaldiçoou!
A frase, embora usada já sem aquela carga pejorativa que lhe foi atribuída por altura da revolução dos cravos, ainda não deixa, por vezes, de causar um certo incómodo pelos resquícios de verdade que ainda encerra.
Hoje, ao proferi-la em público, é-se muitas vezes rotulado de saudosista, reaccionário, velho do Restelo, fascista, e eu sei lá de que mais... E com muita razão. Digo eu...
Quando e onde é que existiu uma escola tão franca e tão alegre como a de hoje?
Quando é que ela foi tão franca, tão livre, tão aberta, tão acessível e tão porreira como a de hoje? E quando e em que reinado é que os estudantes se riam tanto, brincavam e se divertiam, à grande e à portuguesa, nas aulas?
E quando é que eles tanto se evidenciaram a berrar e a contestar como o fazem agora? E quando é que lhes foi permitido dizer tanta asneira, insultar os professores, e fazer da indisciplina uma lei?!...
Agora... Claro! Por isso, que não venham esses velhos saudosistas e carunchosos, azucrinar-nos a cabeça com essas coisas velhas e relhas da educação, do bom comportamento, da civilidade e do respeito...
Fora com esses princípios castradores tais como, o da compostura pessoal, o da disciplina, o do sentido da responsabilidade, o da delicadeza e o do respeito pelos mais velhos!
Lixo com tudo isso! O tempo em que o professor tinha a última palavra, já lá vai! Chegou finalmente "a era do aluno". Chumbar?... O mestre que se cuide!
Que importa se não se sabe somar, dividir ou subtrair? E será crime dar pontapés na gramática ou escrever chouriço com três xis?
O que esses velhos saudosistas têm é inveja! É por isso que de vez em quando se lembram de abardinar o sistema e dizer mal desta cultura da vida airada que é bué.. Hoje a malta o que quer é curtir.
E esses cotas não compreendem, porque no tempo deles era tudo uma cambada de melgas, não havia pintas. Antigamente o clima era cagativo e foleiro. Agora é baril!  E então quando a bejeca vaza quase ininterruptamente até às botifarras, é uma desbunda baril!...
Nesse dia “acusaram-me” de ser saudosista. E sou. Não no sentido ideológico que estava subjacente à “acusação”, mas sim com base na pura essência da doutrina da saudade… Isto é, no que diz respeito à educação, ao respeito e aos valores morais que me ensinaram quando pequeno.
 

 

PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTA...


Nos fins do século dezassete e começos do século dezoito, os portugueses foram motivo de troça para todos os estrangeiros devido à sua mania dos óculos. O escritor, La Brue, no seu livro Voyage à Cacheu, descreve um salteador alentejano que antes de aperrar o seu bacamarte, «ata às orelhas os seus grande óculos portugueses de presilha de coiro...»
Mais escritores se referiram ao assunto e até Montesquieu, o príncipe dos impertinentes do seu tempo, escreve no seu livro, Lettres Persanes, que a importância e o carácter dos portugueses «se ostentavam principalmente de duas maneiras: pelos óculos e pelo bigode... (...) O português e o espanhol usam vidraças nos olhos porque pensam que os óculos conferem àqueles que os usam um ar de sapiência e de intelectualidade...»
Os óculos, pelo que nos contam os livros, eram como que um distintivo de superioridade intelectual, um luxo e uma maneira de ostentar qualidades que muitas vezes os seus portadores não possuíam. Uns óculos encavalitados no nariz de qualquer «palerma» ou de qualquer «estúpido» eram uma espécie de tira-nódoas ou um diploma que, numa primeira fase branqueava a incompetência, e na segunda conferia um certificado de erudição e sapiência. Falsos, evidentemente...
Esta lengalenga toda para vos dizer que comparo muito essa mania dos óculos dos séculos XVII e XVIII, à actual «moda» do «dê erre", pois por detrás dele esconde-se muita ignorância, muita vaidade, muita soberba e muita prepotência!
A doutorice é, no nosso país, uma epidemia. Qualquer técnico e seja qual for o sector profissional em que trabalha, o que ambiciona é ser tratado por doutor ou engenheiro.
Se formos para o sector público, então aí o contágio dá-se tão rapidamente que nem há período de "incubação". Há casos em que o «recruta», graças à cunha ou ao tráfico de influências, entra por uma porta e quase sem ter tempo para abotoar os botões da farda, sai pela outra já "pendurado" num dos respectivos distintivos: o de doutor ou o de engenheiro!...
Que fique bem claro que não estou a referir-me aos doutores verdadeiros, porque esses, - uns por modéstia, outros porque não querem misturas- não gostam que os tratem por aquilo que verdadeiramente são. Refiro-me, isso sim, a esses “doutoraços” incompetentes, cheios de vaidade e vazios de conteúdo, que se passeiam por aí… Fazem lembrar os balões dos arraiais de Verão – basta uma pequena subida de “temperatura” para que estoirem!
Lembram-se da fábula de La Fontaine, que conta a história do “Sapo e do Boi”?!...
 

 

 

PÁSCOA


 
Festejar mais uma Páscoa é para mim como que um presente, um favor divino, uma graça, até talvez imerecida!
Mas é também um compasso de espera neste meu peregrinar pela vida; é a concessão de uma espécie de paragem para melhor reflectir sobre o seu sentido e as razões da Fé.
Talvez porque a Natureza ajuda ou algo de mais invisível me invade, estes dias que precedem a Ressurreição despertam um sentimento de esperança e alegria que fazem com que esqueça o peso dos anos... 
É assim como que um recobrar do ânimo, um retemperar de forças, um reconforto moral, tudo consubstanciado num sincero e sentido hino de louvor e graças a Deus pela ajuda e companhia prestadas neste já longo percurso pelos traiçoeiros e sinuosos caminhos da Vida.
O mundo em que vivemos está em constante mutação e muitas vezes acossado pela dúvida, interrogo-me se será mesmo verdade que quanto mais vivemos menos sabemos!... 
O que nos ensinaram ontem dizem-nos hoje que é mentira! E se quisermos adaptar-nos a essa nova "filosofia", temos que esquecer quase tudo o que nos ensinaram ou aprendemos. Eu, por mim, não quero! E não quero porque são muitas as contradições e poucas as certezas...
É por isso que, constantemente me esforço por fazer uma adaptação controlada sem, contudo, cortar as amarras que me ligam aos valores tradicionais da honra e da moral que me moldaram e que me fizeram chegar até aqui sem desonra e com muito orgulho.
E é, sobretudo, nestes dias e momentos diferençados, - mais convidativos a uma profunda e séria reflexão - que encontro na Fé a força para continuar e a certeza de que continuo no caminho certo.
A Páscoa é o tempo de criar espaços de amor e perdão; é o tempo de nos sentirmos o irmão de cada homem e de tentar tornar a vida mais humana. É também a quadra apropriada para um balanço, uma avaliação do nosso procedimento para com os outros: todos erramos, todos cometemos ofensas. Há que assumir o mal que fazemos e perdoar com humildade, sem rancor ou ostentação. O mundo em que vivemos está cheio de falsos pregadores e de vilões disfarçados de santos. Os tentáculos da hipocrisia não cessam de se estender e, muitas vezes, assiste-se à prática de uma "religião" onde a vaidade e o espectáculo usurpam o lugar reservado ao recolhimento e à devoção. No entanto, para quem já viveu a verdadeira experiência da Fé, nada disso a enfraquece, e o Mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, reforça-a ainda mais.
 
 

ESTE PAÍS É BOM PARA QUEM?


 
A frase é frequente, e raro é o dia em que não a ouçamos nas suas duas versões – uma referindo-se a velhos e outra à geração mais nova.
Enquanto uns afirmam que o País não é para velhos, outros dizem o mesmo em relação aos mais jovens… Mas afinal, em que ficamos? Para quem é que este País é bom?  
Há dias, quando matutava no assunto, eis que, de repente, - como raio de sol que espreita por uma nesga de uma nuvem negra- um jornal diário dissipou as minhas dúvidas e obtive a resposta.
E só não disse Eureka, porque sou contra plágios e estrangeirismos e também porque não quis perturbar o sono eterno do sábio grego. E exclamei para com os meus botões: Achei!...Finalmente descobri para quem este País é bom…
Este País é bom para os que mandam, para os que os acompanham e sobretudo para todos os ex-governantes e afins. Para esses, Portugal é um paraíso terrestre.
Catrogas, Cardonas, Pereiras, Penas, Pintos, Macedos, Mateus, etc., etc., são alguns desses privilegiados que lá do alto dos seus chorudos salários contemplam com indiferença esses milhões de pessoas que tentam sobreviver com ordenados e pensões de miséria.
Dos sete, se tomarmos como exemplo o ex-ministro Catroga que auferiu em 2013 um salário mensal de cerca de 35 mil euros, facilmente encontraremos a razão pela qual chegámos à situação em que nos encontramos. Mas, e infelizmente, há ainda muitos outros a receber quantias exorbitantes como é o caso dos gestores de várias Empresas do Estado.
Como é possível tanta injustiça? Como é possível deixar que muitos morram de fome e outros ganhem salários de nababos?
Como conseguem viver os que trabalham e ao fim do mês recebem o salário mínimo ou os idosos que auferem uma pensão mensal que não ultrapassa os 300 euros?
Qualquer generalização é injusta e até odiosa, Mas é impossível não ficarmos indignados perante tamanho insulto aos milhões de pobres que tentam sobreviver por esse País fora.
Estamos fartos de ouvir falar de solidariedade e verificar que na prática a palavra é apenas uma figura de retórica, usada pela classe política para emoldurar os seus longos e ocos discursos.
Esses ícones de um Mundo irreal e injusto que a máquina-política guindou ao pódio – muitas vezes sem esforço próprio ou merecimento justificado- deveriam ter um pouco mais de dignidade e de nobreza. Mas não têm. Hoje vivemos num mundo de famosos, de heróis fictícios, alguns falsos, fabricados pela política e pelos órgãos de comunicação social.
E é para muitos desses que Portugal é bom!...

 

 

 

 
 
 

 

UM CONSELHO A DONA TEODORA


 

Não conheço a Senhora de nenhum lado. Por isso não lhe quero mal, não vou insultá-la, não vou contrariá-la, nem tão pouco a vou criticar. Dona Teodora não é culpada,porque quando propôs a criação de uma taxa a incidir nos levantamentos de dinheiro de contas onde os cidadãos recebem os salários e as pensões, estava em êxtase. Não estava cá...  
Presumivelmente estava envolta numa aura beatífica, um daqueles momentos místicos, a que só os escolhidos conseguem elevar-se!
E voava! E, em círculos, como águia que espreita a presa no solo, só alcançava pequenos seres indefesos, vulneráveis, que nada podiam contra as suas aduncas garras. Mas voava sobre territórios longínquos…
Voava muito longe do País em que há mais de dois milhões de pobres; mais de 700 mil famílias que não conseguem pagar os seus empréstimos à banca; mais de 500 mil pessoas com os salários penhorados e segundo um inquérito recente do Instituto Nacional de Estatística, onde há 1.961.122 casos de pessoas actualmente no limiar da pobreza!
A Dona Teodora estava noutro País. Num País muito longínquo, num país-paraíso. Num País onde não falta o dinheiro. Onde a população é constituída apenas por “filhos da pátria” - Ministros, Directores Gerais, Deputados, Assessores e Afins. Um País em que todos os dias é “sábado à noite”, sempre em festa, em que não há preocupações; num País de privilegiados que ao fim de 3 ou seis anos, os mandantes têm uma reforma choruda, enquanto um cidadão do outro, tem de trabalhar 40 anos, para ter uma pensão de miséria; num País em que os Ministros, Assessores e Afins têm salários principescos e benesses inimagináveis, enfim, num País em que apenas os esbanjamentos dariam para matar a fome a milhões de pessoas!
E aqui estão dois Países diferentes. O primeiro que é o real e o segundo, que é o da realeza, aquele em que levita Dona Teodora.
E foi no segundo que ela se baseou para fazer a proposta, profetizando que “seria um incentivo à poupança”…Talvez no País dela, porque no real não há dinheiro para comer quanto mais para constituir qualquer pé-de-meia!
Dona Teodora acha que a ideia é excepcional e que não “existe em lado nenhum…”
Que lhe faça bom proveito e apresse-se a registar a patente dessa sua ideia tão brilhante, quanto injusta. Mas permita-me, Dona Teodora, que lhe dê um conselho: combine com o seu motorista e venha conhecer o País real. Venha ver com os seus próprios olhos como sobrevivem aqueles a quem quer agravar ainda mais a situação de miséria em que vivem.