domingo, novembro 05, 2006

Um domingo na aldeia

Oito horas da manhã. Abro a janela do meu quarto. O dia acordou carrancudo. Nuvens pardacentas, prenhes de água, movimentam-se lá em cima. A serra está vestida com uma túnica branca, rasgada aqui e além, e que deixa ver, à transparência, o verde dos pinheirais. Ninguém na rua. É ainda cedo. As badaladas do sino ecoaram há pouco anunciando a missa. Um casal de rolas toma a dejejua além, no pequeno tanque do jardim. Tudo é silêncio. Um cheiro a azedo entra no quarto proveniente das uvas que apodrecem na parreira. É a agricultura dos pequenos a soltar os últimos suspiros…
As moscas começam a entrar…fecho a janela.
Pequeno-almoço. Ultimar trabalhos da edição 812. Leitura dos jornais via Internet. Nada sobre o que se passa em França!... A França é tão longe…Censura? Isso era no tempo da ditadura e fazia-se com lápis azul, hoje faz-se com dinheiro. Já ouviram falar no “choque tecnológico”?
Por cá, pão e circo, ou mais honestamente, apenas circo. O pão começa a rarear… na mesa dos pobres. O circo tem cada vez mais artistas. Palhaços, sobretudo!
Mau tempo em alguns locais do País. Prejuízos avultados. Queixas. «Ninguém vem ajudar-nos. Nem ministros, nem secretários de Estado, ninguém…», dizem os habitantes. E suas excelências em almoçaradas e passeatas…
A propósito, vou almoçar também…
Às 14,30 fomos à “Feira das Castanhas”. Há anos que o fazemos. É aqui perto a cerca de 4 quilómetros. Uma feira de castanhas onde, além das ditas cujas, há de tudo: maçãs, nozes, avelãs, peras, cebolas, alhos, mel, compotas tudo produtos sem corantes nem conservantes, isto é, sem pesticidas, produtos biológicos, produtos da aldeia. Comprámos maçãs bravo de esmolfe, rosadas e que têm um cheiro que nem imaginam!
Há também pequenas tendas onde se vende de tudo: sapatos, louça de barro preto e outro, roupas, mercearia, eu sei lá!...
Um grupo de bombos inicia a festa. Depois, no palco improvisado actuou um grupo de cavaquinhos e a seguir o Rancho folclórico da aldeia. Tudo genuíno, tudo como há anos se fazia! Ah! Esquecia-me de dizer que também há comes e bebes. Há umas senhoras que levam um forno e fazem uns petiscos de truz! Pão com chouriço, bola de sardinha, bola de bacalhau, etc. etc. Ao lado…a respectiva pinga. Um pipo com vinho ao copo. Do Dão!...
Muita gente, toda conhecida e entre ela, o meu ex-colega de liceu e velho amigo – um advogado reformado, agora passando o tempo na “ingrícola”.
Falador, macaco velho, advogado matreiro quando exercia, que só deixámos porque a chuva veio dizer-nos que eram horas de regressar…
São 22 horas. Chove, mas não está frio. Vou ainda ler um pouco para terminar mais um domingo…na aldeia.

1 comentário:

dismore disse...

Adorei! Tão bem descrito que momentaneamente me senti transportada para aquele ambiente. Soube-me bem, só foi pena não poder realmente provar as maçãs mas senti-lhes o cheiro.