Fui e continuo a ser um apaixonado pelos
escritores franceses. E isso porque durante três décadas da minha vida, - entre
os 25 e os 55 anos - foram os seus livros que me serviram de companhia. De um
deles, “Un Art de Vivre” de André Maurois, retive uma frase que tento adoptar,
não como antídoto eficaz contra a velhice, mas como uma espécie de retardador
da sua chegada.
A certa altura do livro escreveu o autor
que «o verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento
do corpo, mas a indiferença da alma».
Acredito que
esta pequena frase seja motivo de troça por parte de muita gente, mas no meu
caso pessoal, como crente que sou e pelas experiências vividas, penso que nela
está o segredo que me leva a gostar cada vez mais da vida.
Sou, como
sabem todos aqueles que me conhecem, um homem que transporta um pesado bornal
de Invernos e a maior parte vividos sem guarda-chuva.
Já passei por
muitas situações - boas e más. Mas nessas minhas andanças pela vida nunca
ocupei um lugar de destaque, nunca fiz um grande gesto pela humanidade, nunca
me evidenciei por qualquer feito ou causa, enfim, também nada fiz para que me
transformasse num herói.
Mas mesmo
assim penso que tenho o direito de, pelo menos, “sonhar” com mais uns anitos,
porque gosto da vida e de tudo o que ela me tem proporcionado até hoje.
Não quero
adormecer para sempre. Não quero deixar os que me são queridos, as árvores e as
flores do meu quintal.
Quem disse que
já estou a mais e que não faria falta a ninguém? E mesmo que não fizesse, onde
está escrito que isso é motivo para deixar a vida? Quem pensa assim? Os meus
herdeiros? Não, porque todas as minhas participações nos diferentes e
lucrativos empreendimentos que tenho no país, no estrangeiro e nos mais
longínquos “Offshore”, já estão em seus nomes. Os meus inimigos? Esses também
não, porque como diz o ditado “ vozes de burro...”
Também segundo
a opinião do meu médico a “coisa” não está assim tão má que não possa durar
mais uns anitos. Portanto...
É curioso!
Quando cheguei aos sessenta, disse cá pra comigo: até aos setenta ainda faltam
dez. Depois aos setenta, baixinho, pedi para chegar aos oitenta. Agora, que já
passei a capicua, esta minha vontade de viver continua cada vez mais forte.
E como é bela
esta caminhada! Como é maravilhosa a Vida quando a lapidamos com o cinzel da
humildade, a polimos com fraternidade e a vivemos com amor, rodeados pela
família e amigos verdadeiros, sem ganância, sem ódios, nem invejas!...
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