Parece que foi ontem, mas a verdade é que há 23 anos, que preencho semanalmente este espaço.
O fim de cada ano é para mim como que uma prenda que ofereço a mim mesmo e um reconhecimento a todos os que me têm acompanhado nesta caminhada.
Colaboradores, correspondentes, assinantes, leitores, amigos, todos eles têm sido meus companheiros de viagem. E se o caminho é feito pelos nossos próprios passos, a beleza da caminhada também depende dos que nos acompanham.
Como todos sabem e como várias vezes o tenho dito, o acto de escrever
é para mim uma necessidade espiritual. É a forma de afastar para longe, o que a vida me negou, mas é também um hino de louvor por tudo o que ela me concedeu em troca.
É uma mistura de lágrimas e sorrisos. Lágrimas de outrora que já secaram e sorrisos que vou alimentando com esta força interior de querer continuar a luta, de tentar recuperar momentos irrecuperáveis!
Utopia? Talvez. Mas o que seria a vida sem sonhos, sem aquela faceta utópica que muitas vezes tentamos esconder?...
E é por isso que eu continuo a escrever. E faço-o, porque é como quem faz uma confissão. A sós. Sem padre, mas com a presença invisível de Deus. Com o amontoar dos anos, há momentos na vida em que a solidão nos cerca, e embora rodeados de muita gente, interiormente, precisamos de estar sós.
E com a música em surdina, aí vou eu em peregrinação interior percorrendo a vida, encurtando caminho, poupando os passos.
É uma viagem por dentro de nós, através de atalhos, e porque é longa a caminhada, não há tempo a perder. Por vezes, no caminho, a emoção cerca-nos e invade-nos a alma. Há ocasiões em que tropeçamos nos sorrisos que deixámos nos trilhos que percorremos, e é a alegria que se apossa de nós. Recordações, momentos que o tempo não apagou saltam da arca dos nossos sonhos e vêm fazer-nos companhia. E dialogamos. Um diálogo que acaba também por ser um monólogo entre passado e presente, mas a uma só voz. Um confronto que nem sempre é pacífico.
Escreve-se a vida, as gentes, os tempos, mas o acto de escrever é sempre um acto solitário. Sobretudo quando não nos movem interesses escondidos nem vinganças alheias e em que apenas denunciamos injustiças, lutando mais pelos outros que por nós próprios.
Escrevinhador de barba e cabelos brancos, escrevo também para resistir à marginalização e não deixar morrer a criança da alma, a alegria de viver, a espontaneidade do sorriso e a fé que sempre me alumiou. Neste tempo em que apenas se ouve a voz da conveniência, denunciar as injustiças é também como que rezar a Deus para que ponha cobro a tanta desumanidade.
E aqui têm, resumidamente, o motivo por que continuo a escrever.
1 comentário:
OBRIGADO E PARABENS por este seu comentário de hoje, verdadeira pérola a descobrir numa Arca Velha. E que pérola. Que tesouro! Tal como escreve, mas longe de me aproximar ao seu profundo espírito humanista, embora com a enorme vantagem de dele beneficiar, igualmente me identifico que “no ato de escrever (…) é uma necessidade espiritual”. Sem dúvida! Que proclamação. Que confissão com a qual me associo inteiramente!
Continue, meu caro, “com a música em surdina, percorrendo a vida... para não deixar morrer a criança!” E que música! Que prosa! Que o vigor da sua escrita, do seu nobre sentimento e, em muitos aspetos, “o denunciar as injustiças...lutando mais pelos outros do que nós próprios”, continue a ser o vicejar de uma constante manhã do dia da esperança e da satisfação do dever cumprido! Que continue a ter as necessárias forças, a indispensável inspiração de prosseguir no caminho da vida e, e em relação a 2012, gratíssimo pelas previsões! Raramente consulto ou confio em horóscopos. O que vier, virá: se for bom, benvindo, caso contrário será recebido como muitos outros, alguns deles lições para experiência daquele futuro, felizmente desconhecido e mais feliz ainda pelas surpresas que possa trazer.
O RENOVADO OBRIGADO, MEU CARO, VOTOS DE CONTÍNUA SAÚDE E INSPIRAÇÃO PARA E MUITO ALÉM DE 2012!
A amizade e a admiração de sempre do,
Gilberto Ferraz
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