O que ides ler foi escrito por etapas. Foram precisos três dias para conseguir escrever 464 palavras, alinhavar 2.200 caracteres, separá-los por 11 parágrafos e empilhá-los em 59 linhas!
No primeiro dia passei o tempo a escrever, apagar, reescrever, voltar a apagar, enfim um trabalho que se fosse feito no tempo do lápis e da borracha, seriam precisas umas boas dúzias de uns e de outras. Agora com o computador é mais fácil, mas nem por isso deixa de ser desgastante esta tarefa semanal de alinhavar estes rabiscos.
No segundo dia fiz uma lista com inúmeros assuntos, mas quanto a inspiração, nicles! A minha secretária particular que me segue há mais de meio século, bem tentava consolar-me: «Deixa lá, amanhã de manhã com a cabeça fria, vais ver que será mais fácil…»
Cabeça fria tenho eu sempre, pois com a boina rota e com o tempo frio que tem feito, não admira. Mas nada. Talvez os meus neurónios tenham congelado e emperrem o raciocino.
Mas hoje, terceiro dia, eis que se fez luz! Primeiro de Dezembro, feriado nacional, uma data simbólica – a da redenção da Pátria, da restauração da Independência.
E apressei-me a folhear o meu velhinho livro da História de Portugal. E vou lendo, pára aqui, recomeça acolá: «Nesta conturbada 25.ª Hora que é o nosso tempo, meditemos no seu alto significado e na magnífica lição que exprime. Meditemos tão sentidamente, tão sinceramente que, sempre que a Pátria esteja em perigo, imediatamente desponta na nossa alma a aurora estimulante da manhã radiosa do 1.º de Dezembro!»
E as palavras de Camões em 1580: «Morro, e comigo a Pátria!» E mais à frente como numa antevisão do que viria a acontecer: «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Desta vaidade a quem chamamos Fama! /O fraudulento gesto que os atiça / C’uma aura popular que honra se chama! / Que castigo tamanho e que justiça / Fazes no peito vão que muito te ama! / Que mortes, que perigos que tormentas, / Que crueldades neles experimentas!
A vida dos povos pode comparar-se á vida das pessoas com o magnificat dos seus triunfos e das suas glórias e com o de profundis dos seus desaires e das suas derrotas.
Mas estes últimos há quem não queira assumi-los e invente toda a espécie de subterfúgios para desviar a atenção do Zé-povinho. E tudo lhes serve. Nem a História pátria escapa.
Politicamente falando, há na verdade factos, que é melhor não recordar. Sobretudo quando se trata de comparar a energia viril dos grandes feitos de antanho com a subjugação e o egoísmo das atitudes do presente. E é talvez por isso que as nossas cabecinhas pensadoras se preparam para “apagar” da História essa data simbólica que foi o 1.º de Dezembro de 1640.
No primeiro dia passei o tempo a escrever, apagar, reescrever, voltar a apagar, enfim um trabalho que se fosse feito no tempo do lápis e da borracha, seriam precisas umas boas dúzias de uns e de outras. Agora com o computador é mais fácil, mas nem por isso deixa de ser desgastante esta tarefa semanal de alinhavar estes rabiscos.
No segundo dia fiz uma lista com inúmeros assuntos, mas quanto a inspiração, nicles! A minha secretária particular que me segue há mais de meio século, bem tentava consolar-me: «Deixa lá, amanhã de manhã com a cabeça fria, vais ver que será mais fácil…»
Cabeça fria tenho eu sempre, pois com a boina rota e com o tempo frio que tem feito, não admira. Mas nada. Talvez os meus neurónios tenham congelado e emperrem o raciocino.
Mas hoje, terceiro dia, eis que se fez luz! Primeiro de Dezembro, feriado nacional, uma data simbólica – a da redenção da Pátria, da restauração da Independência.
E apressei-me a folhear o meu velhinho livro da História de Portugal. E vou lendo, pára aqui, recomeça acolá: «Nesta conturbada 25.ª Hora que é o nosso tempo, meditemos no seu alto significado e na magnífica lição que exprime. Meditemos tão sentidamente, tão sinceramente que, sempre que a Pátria esteja em perigo, imediatamente desponta na nossa alma a aurora estimulante da manhã radiosa do 1.º de Dezembro!»
E as palavras de Camões em 1580: «Morro, e comigo a Pátria!» E mais à frente como numa antevisão do que viria a acontecer: «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Desta vaidade a quem chamamos Fama! /O fraudulento gesto que os atiça / C’uma aura popular que honra se chama! / Que castigo tamanho e que justiça / Fazes no peito vão que muito te ama! / Que mortes, que perigos que tormentas, / Que crueldades neles experimentas!
A vida dos povos pode comparar-se á vida das pessoas com o magnificat dos seus triunfos e das suas glórias e com o de profundis dos seus desaires e das suas derrotas.
Mas estes últimos há quem não queira assumi-los e invente toda a espécie de subterfúgios para desviar a atenção do Zé-povinho. E tudo lhes serve. Nem a História pátria escapa.
Politicamente falando, há na verdade factos, que é melhor não recordar. Sobretudo quando se trata de comparar a energia viril dos grandes feitos de antanho com a subjugação e o egoísmo das atitudes do presente. E é talvez por isso que as nossas cabecinhas pensadoras se preparam para “apagar” da História essa data simbólica que foi o 1.º de Dezembro de 1640.
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