sábado, julho 30, 2016

CRÓNICA ZAROLHA


Crónica zarolha

Crónica zarolha porque estou a escrever só com um ‘farol’, pois o outro está em descanso devido à substituição de uma ‘lâmpada’ polivalente que faz de mínimos, médios e máximos. Peço, por isso, desculpais antecipadas se neste meu arrazoado de hoje houver falhas ou a escrita desfilar em ziguezagues. E a propósito de mais ‘farol’, menos ‘farol’, deixem-me que faça aqui um elogio, ainda que póstumo, ao nosso grande poeta Camões, o poeta erudito do Renascimento, que só com um dos ‘faróis’, escreveu os Lusíadas, essa obra poética considerada a epopeia portuguesa por excelência, composta por dez cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos, de uma perfeição geométrica inigualável!  
Grande homem este nosso Camões que com um só olho e além do escrever essa grande epopeia, ainda nos mostrou a sua valentia e coragem quando, num naufrágio, conseguiu salvar o manuscrito segurando-o com um a das mãos e nadando com a outra!
Muitas vezes falamos de percalços que acontecem com os outros, mas só quando eles nos batem à porta é que lhes damos o verdadeiro valor. No dia que se seguiu à intervenção dei de imediato ordens para que procurassem na minha biblioteca “Os Lusíadas” e vou relê-los, mal atinja a capacidade total da visão.
Mas deixando o nosso Camões em paz e referindo-me especificamente ao caso em apreço, digo-vos que isto de “carros” velhos é o que tem. De repente, seja numa curva ou numa recta, mal o indígena se precata lá vai o esqueleto para o estaleiro!
Mas nem tudo é mau e, quanto a mim, se não fossem estes “incidentes de percurso” julgo que a vida se tornaria monótona e não daríamos valor à saúde e a todas as alegria e bons momentos que ela nos proporciona quando a usufruímos em pleno.
Diz um antigo provérbio que tanto na cadeia como no hospital todos nós temos um pedaço. E se a realidade nos mostra essa verdade, aquele outro ditado que diz que é num e noutro desses locais onde se conhecem os verdadeiros amigos não o é menos. É nessas ocasiões em que a amizade é posta à prova e se revelam os sentimentos das pessoas que nos rodeiam.
É nesses momentos em que nos sentimos tão frágeis que necessitamos desse bálsamo que nos alivia a alma e nos dá coragem para continuar a caminhada. Isso é, sem exprimir lamechices ou mendigar atenções, apenas apontar o nosso dever, a nossa maneira de estar perante a sociedade e mais especificamente de devolver ao nosso semelhante o sentimento de amizade, que julgamos recíproco. Em poucos dias verifiquei que era mais rico do que o que pensava, pois o carinho e as provas de amizade desinteressada e espontânea de que fui alvo tiveram mais valor do que um volumoso monte de notas do Banco…   

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