Há dias, quando procedia à arrumação de uma estante de livros
onde se amontoam, indiscriminadamente, obras de todas os estilos literários,
passou-me pelas mãos um que li já há muitos anos, mas do qual ainda guardo
algumas recordações embora que um pouco desbotadas pelo tempo.
Não sei se convosco
se passa a mesma coisa, mas comigo isso acontece muitas vezes: ao ver a capa e
ao folhear um livro que li há décadas, vêm-me à memória certas passagens que
ficaram gravadas e que passados todos esses anos ainda perduram na mente!Há, com certeza, uma explicação científica para o caso, mas como não gosto de entrar por caminhos que não conheço, nem de me arvorar em pretenso sabichão, aceito a “coisa” com naturalidade, e contento-me com aquela velha máxima que diz que “os velhos vivem das recordações do passado.”
Sei bem que isso é treta, pois nem só das recordações se vive. E se fosse verdade, e no caso de as poder transformar em notas, eu teria na minha conta bancária um saldo tão gordo como a de qualquer magnata do petróleo ou do príncipe mais rico das Arábias!
Mas voltando ao começo destes rabiscos, referia-me eu às famosas “Viagens de Gulliver”, onde o autor, Jonathan Swift, nos conta as aventuras de um homem que ao longo das suas viagens passou por um país cujos cidadãos eram de pequena estatura e depois por outro, todo ele povoado por gigantes.
É uma sátira bastante dura contra as instituições sociais e tanto nos pigmeus de Liliput como nos gigantes de Brobdingnag, Swift não deixa de zurzir forte e feio, apontando as suas falsidades, as suas paixões, as mesmas hipocrisias e os mesmos vícios.
E foi a pensar nessa passagem do livro que esse sinal gráfico, essencialmente feminino, que é a interrogação, curiosa, esticou o pescoço e me bisbilhotou ao ouvido: - não estaremos nós também agora a viver sob o signo de Gulliver? E levado por aquela pertinente hipótese, aí estou eu a conjecturar e a pensar baixinho: - no nosso percurso histórico, a situação em que nos encontramos, não será, de facto, um tudo-nada parecido com Brobdingnag e Lilliput? Gigantes de um lado e pigmeus do outro?!...
Que eu me lembre, o autor não se refere ao número de habitantes existentes quer num país quer no outro, isto é, não aponta o número, nem dos gigantes, nem dos pigmeus. Mas, mantendo a suposição acima enunciada, entre nós não haverá mais pigmeus do que gigantes?
Ainda bem que cheguei ao fim do meu espaço, pois já estava a enveredar pelo mesmo caminho do autor e pronto a zurzir também, e à minha maneira, nesses parasitas gigantes que tudo tentam para nos esmagar…
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