Os
pregões da revolução dos cravos com os quais se anunciava que, «o povo é quem
mais ordena” serviram apenas para criar falsas e efémeras esperanças. Já
Salazar dizia que «não se pode governar contra a vontade do povo», mas apesar
de todos os solavancos ideológicos por que temos passado, agora como então, a pergunta continua sem resposta. O que é a “vontade do Povo”?
Será,
como diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o fundamento da
autoridade dos poderes públicos? Teoricamente talvez, porque na verdade, na
prática, assim não acontece. Ainda ninguém conseguiu fazer a destrinça. Foi-se
a ditadura e com o advento da democracia foram muitos os que acreditaram que a
partir daí se poderia definir e explicar o sentido da expressão. Puro engano.
Quem assim pensou esqueceu-se que qualquer sistema de governo tem as suas
subtilezas, os seus disfarces e os seus embustes. Daí que no sistema
democrático, para contornar a situação, convencionou-se que vontade popular é a
que resulta da contagem das cruzes nos papelinhos saídos da caixa a que funebremente se deu o nome de urna. Mas não existe qualquer
verdade no denominado sufrágio universal. O que há, isso sim, é uma verdade convencional.
E isso porque hoje mais do que em tempo algum avança-se ou recua-se mercê de
uma série de convenções. Como no passado, também no presente o povo vota, mas não manda; o povo paga, mas não sabe para onde vai o seu dinheiro; o povo sofre, refila... e cansado e rouco, acaba por desistir. Então e a tal vontade popular? Uma simples figura de retórica. Um ornamento que serve apenas para enfeitar os discursos hipócritas e ocos dos mandantes. E como o mal já vem de longe e não se consegue fazer a destrinça entre verdade e vontade, manda quem pode, obedece quem deve. E Isto apesar de todos sabermos que o que convém à minoria que governa nunca coincide com a maioria dos que não governam. É dos livros e não queiram convencer-me de que - nesse capítulo - há formas de governo diferentes. Cada Governo, qualquer que seja a ideologia, tem de fazer sempre referência à tal ‘vontade do Povo’, sem nunca saber o que realmente isso é. E ainda há quem diga que somos pequenos! Só se for no juízo. Porque na arte de "meter a mão na massa" somos os maiores. Governados por umas dúzias de cidadãos - muito bem protegidos por "pequenas verdades convencionais" - cá vamos vivendo, assistindo impotentes a "desvios" sistemáticos de milhões.
O último da lista, o da CGD, que dizem ser de quatro mil milhões e que o Povo vai ter de pagar, mostra bem que seja qual for o Governo em funções e ao contrário da canção, o povo não é «quem mais ordena», mas quem é mais ordenhado. Mesmo com a teta a sangrar. E a «toque de Caixa».
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