quinta-feira, maio 26, 2016

À GUISA DE PARÁBOLA


O Instituto da Meteorologia tinha anunciado que seria pouca a chuva, nessa semana, mas S. Pedro que não pensava da mesma maneira fez com que em poucas horas os rios transbordassem... E em poucos dias foi tanta a água vinda do céu que várias aldeias ficaram submersas!
Alarmadas, as Autoridades decidiram tomar as medidas que se impõem em tais circunstâncias. Num dos povoados quando o carro da Protecção civil chegou, encontrou apenas a maior beata da aldeia, a Zefa, que, teimosa, mesmo com a água pelos joelhos, recusava sair dali: «Que não! Que podiam ir embora, porque ela ficava. Não tinha medo, pois rezava muito e Deus viria salvá-la...»
O motorista insistiu, o seu ajudante explicou as consequências que poderiam advir se ficasse, e como não conseguiram demovê-la, deram meia volta e abalaram.
No dia seguinte o barco pneumático que foi mandado em seu socorro, encontrou-a sentada no parapeito de uma janela do segundo andar, balanceando as pernas e já com os pés submersos.
E como tinha acontecido com o motorista, assim aconteceu com o “marinheiro” que esbarrou na mesma teimosia: «Ouça cá, seu almirante, ou se vai embora ou eu furo-lhe essa espécie de odre de vinho. Deixe-me em paz! Eu sei nadar e acima de tudo Deus não abandonará uma devota como eu! Faça-se ao largo e passe bem!...»
No terceiro dia somente os ramos das árvores emergiam da massa líquida que cobria o vale. A casa quase se não via, mas quando o helicóptero a sobrevoou, o piloto pode ainda ver a sua proprietária agarrada à antena da televisão, rindo e fazendo gestos obscenos. Desceu um pouco mais e viu-a apontar para o Céu, como que explicando que Deus a ajudaria… E nessa mesma noite, a beata Zefa morria afogada. E chegou ao Paraíso. Descalça, encharcada, aproximou-se do refulgente trono de Deus, mas em vez de uma aparência feliz por se encontrar em ambiente celestial, era de tristeza e de desagrado o seu semblante. E Deus apercebendo-se disso, perguntou: «Zefa, minha filha, porquê essa tristeza e esse rancor que vejo nos teus olhos?» «Senhor! Estou triste e zangada, porque me senti por Vós abandonada... Vós deixastes que eu perecesse como simples e vil pecadora. Eu que sempre em Vós confiei…»
«Basta, mulher de pouca fé!» – retorquiu Deus. - «Que ingratidão, minha filha. Como és cega e descrente! Então não te apercebeste que mandei três anjos, – o motoristas, o marinheiro e o piloto – em teu socorro?...»
E foi só então que a beata Zefa compreendeu que rezar não basta e que a sabedoria suprema com que Deus conduz todas as coisas é incompreensível para qualquer mortal.

 

 

 

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