Por mais vertiginosa
que seja a marcha a que se desloca a carruagem da nossa existência ela não
consegue fugir às regras previamente estabelecidas. E é assim que, de vez em
quando, ela abranda e pára. E nessa paragem, a porta abre-se, e um dos
passageiros, sem qualquer dos seus pertences é intimado a abandonar a
composição...
Aguarda-o uma velha
desdentada, rosto macilento, olhos esbugalhados, garras aduncas e gadanha em
punho. Silenciosa, desenrola o pergaminho, percorre a lista fatal e,
indiferente ao que se passa à sua volta, faz a chamada. Pronuncia um nome. E
aponta com o dedo: «Tu, desce, porque é aqui que termina a tua viagem!...»
E não há desculpa ou
pretexto que valha. É assim a Morte - imprevisível, tirânica e inexorável. Ninguém
escapa ao seu chamamento. No palácio do rico ou na choupana do pobre, no dia
indicado na Lei, ela bate à porta, e mesmo sem permissão, ela entra e leva
consigo o "passageiro".
E é sobretudo nestes
dias, - dia de Todos os Santos e Dia de Fiéis defuntos - que se recordam
aqueles que já partiram. É uma festa inseparável, uma espécie de comunhão entre
vivos e mortos.
Rezar pelos defuntos
é como que desbravar o caminho que um dia iremos percorrer. É a nossa crença na
Ressurreição e na Vida para além da morte.
Os Egípcios, quando
ofereciam grandes banquetes, costumavam expor à vista dos seus convidados um
esqueleto de madeira com a seguinte legenda: «Comei, bebei e diverti-vos, mas
não esqueçais que um dia sereis iguais a ele...»
Interpretação
diferente davam os primeiros cristãos à morte, considerando o dia em que ela
bate à porta, o dies natalis -
o dia do nascimento. Morre-se para os homens, mas nasce-se para a Eternidade!
Dia de Todos os
Santos, Dia dos Fiéis defuntos. Nestes dias, enchem-se os cemitérios. Muitas
flores, muitas velas, muitas orações e muitas lágrimas - umas de saudade,
outras de remorso.
Mas não seriam muitas
delas mais apropriadas para aqueles que estão como que amortalhados na frieza,
na indiferença, no abandono, sofrendo carências de toda a ordem e por isso
antecipadamente sepultados no coração dos vivos?
E não haverá muitos
que com lágrimas e flores pretendem fazer crer aos que ainda estão em vida,
aquilo que não deram aos seus que já morreram!...
Como dizia o Santo:
«Flores e lágrimas são alívio dos vivos, mas não refrigério dos mortos...«
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