sexta-feira, novembro 13, 2015

SAUDADES E REMORSOS


 
Por mais vertiginosa que seja a marcha a que se desloca a carruagem da nossa existência ela não consegue fugir às regras previamente estabelecidas. E é assim que, de vez em quando, ela abranda e pára. E nessa paragem, a porta abre-se, e um dos passageiros, sem qualquer dos seus pertences é intimado a abandonar a composição...

Aguarda-o uma velha desdentada, rosto macilento, olhos esbugalhados, garras aduncas e gadanha em punho. Silenciosa, desenrola o pergaminho, percorre a lista fatal e, indiferente ao que se passa à sua volta, faz a chamada. Pronuncia um nome. E aponta com o dedo: «Tu, desce, porque é aqui que termina a tua viagem!...»

E não há desculpa ou pretexto que valha. É assim a Morte - imprevisível, tirânica e inexorável. Ninguém escapa ao seu chamamento. No palácio do rico ou na choupana do pobre, no dia indicado na Lei, ela bate à porta, e mesmo sem permissão, ela entra e leva consigo o "passageiro".

E é sobretudo nestes dias, - dia de Todos os Santos e Dia de Fiéis defuntos - que se recordam aqueles que já partiram. É uma festa inseparável, uma espécie de comunhão entre vivos e mortos.

Rezar pelos defuntos é como que desbravar o caminho que um dia iremos percorrer. É a nossa crença na Ressurreição e na Vida para além da morte.  

Os Egípcios, quando ofereciam grandes banquetes, costumavam expor à vista dos seus convidados um esqueleto de madeira com a seguinte legenda: «Comei, bebei e diverti-vos, mas não esqueçais que um dia sereis iguais a ele...»

Interpretação diferente davam os primeiros cristãos à morte, considerando o dia em que ela bate à porta, o dies natalis - o dia do nascimento. Morre-se para os homens, mas nasce-se para a Eternidade!   

Dia de Todos os Santos, Dia dos Fiéis defuntos. Nestes dias, enchem-se os cemitérios. Muitas flores, muitas velas, muitas orações e muitas lágrimas - umas de saudade, outras de remorso.

Mas não seriam muitas delas mais apropriadas para aqueles que estão como que amortalhados na frieza, na indiferença, no abandono, sofrendo carências de toda a ordem e por isso antecipadamente sepultados no coração dos vivos? 

E não haverá muitos que com lágrimas e flores pretendem fazer crer aos que ainda estão em vida, aquilo que não deram aos seus que já morreram!...

Como dizia o Santo: «Flores e lágrimas são alívio dos vivos, mas não refrigério dos mortos...«

 

 

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