Matreiro, ele aí está!... Quente no
começo e vestindo roupa de Verão, o Outono parecia querer enganar-nos. E talvez
porque não gostou de ter sido mal interpretado por se ter apresentado com
trajes que não eram seus, enfureceu-se, e fez trinta por uma linha – ludibriou
os meteorologistas, trocou as voltas aos patrões da moda e acelerou a corrida
às farmácias.
Depois, mais calmo, voltou às
raízes, fez cara de mau, e aí o temos pardacento, vingativo, soprando forte,
trovejante, chuvoso e frio!...
Mas, como nas etapas da vida, as
estações do ano têm, também, cada uma, as suas belezas e os seus atractivos
próprios. Como um pintor que mistura na sua paleta várias cores para fazer um
belo quadro, assim o Outono pintalgou a Natureza com belos e variegados tons!...
A propósito, e agora que não chove,
venham comigo dar uma volta pelo meu quintal: Olhem a beleza daquela mistura de
cores, de todo o cambiante das folhas das videiras, além, na parreira. Apreciem
este gigantesco porco-espinho que é o castanheiro, com os seus ouriços, alguns
de boca aberta, rindo, mostrando os dentes – as castanhas!
Vejam aqui as romãs, coradas,
macias, como a tez de um bebé recém-nascido. Ali à direita, vejam a groselheira
com os seus frutos vermelhos – o supermercado da passarada!
Lá ao fundo, o azevinho e as suas
bolinhas: umas verdes, outras acastanhadas, outras cores do carmim… A nogueira,
carregada de frutos, alguns com o invólucro ainda verde, outros já abertos com
as nozes prestes a cair!
E aqui a contrastar com o despontar
de novos frutos, o fim das rosas com a queda das pétalas que juncam o chão e
fazem um tapete multicolor e viscoso. O princípio e o fim. Como na vida. Uns
nascem e outros morrem!...
E este cheiro característico das
uvas em decomposição, que ao misturar-se com esta fragrância que se exala da
terra fecundada pela chuva, produz em nós uma sensação de tão indizível
bem-estar e de tanta espiritualidade que se torna impossível descrever?!...
E a carícia deste brando vento vindo
da Serra do Caramulo que faz estremecer as folhas das laranjeiras e desprender
as gotas de água que caem na terra como lágrimas de alegria e de reconhecimento
pela chuva, a riqueza que veio do Céu!
Encham os pulmões com este ar puro e
sorvam esta brisa fresca e saudável que tonifica o corpo e reconforta a alma!
É Outono, caem as folhas. Na
Natureza como na Vida, há sempre Deus. Há fim, e há recomeço. Há sempre beleza.
Há encanto, e há sempre um sonho que se desfaz, e uma esperança que renasce...
Sem comentários:
Enviar um comentário