sexta-feira, novembro 13, 2015

SEBASTIÃO COMO TUDO, TUDO,TUDO...


O alarido começou com a doença das vacas loucas, com os nitrofuranos dos frangos, com os nitritos da carne de porco e agora com a carne vermelha e carne processada, como salsichas, fiambre, bacon ou presunto.
Os investigadores da Organização Mundial da Saúde colocaram a carne processada na “lista negra” dos produtos ou substâncias para as quais existem “provas suficientes” que os ligam ao aparecimento do cancro. Portanto, nada de salga, de fumeiro, fermentação ou outros processos para melhorar o sabor ou a sua conservação.
São cíclicos estes alarmes e, quanto a mim, por detrás deles há sempre qualquer coisa de suspeito. Não duvido que não haja motivo para acautelar a ingestão exagerada de certos produtos, mas tentar condicionar ou até mesmo proibir o seu consumo, creio que é ir demasiado longe em questões de alimentação. Aliás, não somos todos iguais e generalizar dá sempre origem a erros de avaliação.
Diz um ditado popular que “de médico e louco, cada um tem um pouco”. E é verdade. Não sou médico de porta aberta, mas sem desprimor para as normas dos verdadeiros discípulos de Hipócrates, muitas vezes “visto a bata” para dosear o “combustível” da minha máquina. E salvo algumas excepções nada ou quase nada faz mal, quando se evitam os excessos. A sabedoria popular é rica em ensinamentos sobre a alimentação e aqui vos deixo alguns provérbios que, quando cumpridos, podem diminuir drasticamente a conta da farmácia…
Começamos pelo que diz que “mata mais a gula do que a espada” e que “para longa vida, regra e medida no beber e na comida”. Deve também respeitar-se a hora do dia a que se comem certos alimentos, pois “a laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata”. Já agora fique a saber que “comida sem sal, a doentes não faz mal” e que “quem come salgado, bebe dobrado”. Lembre-se também de que “para ter saúde tem de ter pouca cama, pouco prato e muito sapato”, pois “mais vale romper sapatos do que lençóis”. E quanto a bebidas não esqueça que “nada faz como o vinho se tomado com tino”, mas não esqueça de moderar a sua ingestão porque “onde entra o vinho sai a razão” e “depois de beber cada um diz seu parecer”. Lembre-se ainda de que “tabaco, vinho e aguardente tornam o são em doente” e de que “pão de hoje, carne de ontem e vinho de outro verão, fazem o homem são.” E por falar em alimentação, em proibições, em cuidados e cautelas, vou deixar-vos com a letra da canção do “Sebastião come tudo, tudo, tudo”, que espero a saibam trautear:
Sebastião come tudo,tudo,tudo,
Sebastião come tudo sem colher,
Sebastião fica todo barrigudo
E por fim dá beijinhos na mulher.

 

 

A PLEONASMITE


 
Nunca ouviu falar de “pleonasmite"? Se não ouviu, preste atenção antes que seja tarde. A “pleonasmite” é uma “doença” que atinge muita gente. É uma “doença” congénita para a qual não se conhecem por enquanto nem vacinas nem antibióticos. É, por isso, uma “doença” que não tem cura, mas que não mata. O que necessita é de ser controlada, pois incomoda bastante os que convivem com o paciente. O sintoma aparece nas conversas, quando se verbalizam pleonasmos (ou redundâncias) que, com o objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre patético.

Leia este exemplo: “Quando “subi pra cima”, tudo bem; mas depois quando “desci pra baixo” escorreguei. Tentei “entrar para dentro” de casa, mas tive uma “surpresa inesperada” quando meti a mão no bolso e não tinha a chave...

O leitor já se apercebeu de que também sofre dessa “doença”?!...Acha que não sofre?!...

Então nunca disse que estava a “recordar o passado”?

Está a ver que nem sempre esteve atento aos “pequenos detalhes”? Lembra-se de quando faleceu o marido da D. Floripes e lhe deu os “sentidos pêsames” disse cá fora que a “viúva do falecido” estava muito triste?

E quando alguém lhe disse que achou o contrário, não disse que era a sua “opinião pessoal” baseada em “factos reais”?

Também não disse que aquela “doença má” que vitimou o falecido tinha vindo sem “aviso prévio” e que isso acontece a “todos sem excepção”?

Também não me disse há dias que um supermercado estava a tentar atrair clientes com “ofertas gratuitas”? Há tempos, quando fez obras em sua casa e eu lhe perguntei se estavam prontas, lembra-se de que me disse que faltavam apenas os “acabamentos finais”?

E também não me disse que amanhã ia ao cinema ver um filme que “estreia pela primeira vez”?

E há pouco não disse que tinha a “certeza absoluta” de já o ter visto e que até sabia o nome do “principal protagonista”?

E aquando do incêndio na Serra me disse “vi com os seus próprios olhos” que a floresta “ardia em chamas” apesar de se ter juntado uma “multidão de pessoas”? Lembra-se? Por tudo isso, “já agora” siga o meu conselho, “não adie para depois” e comece a “encarar de frente” essa “doença”.

Não faça como “há dois anos atrás” que disse que ia começar a sua “própria biografia” e depois não a fez porque teve de “sair para fora”, para o estrangeiro?!...

Corrija-se ou então esqueça este texto. Porque afinal de contas eu posso também estar só “maluco da cabeça".

SAUDADES E REMORSOS


 
Por mais vertiginosa que seja a marcha a que se desloca a carruagem da nossa existência ela não consegue fugir às regras previamente estabelecidas. E é assim que, de vez em quando, ela abranda e pára. E nessa paragem, a porta abre-se, e um dos passageiros, sem qualquer dos seus pertences é intimado a abandonar a composição...

Aguarda-o uma velha desdentada, rosto macilento, olhos esbugalhados, garras aduncas e gadanha em punho. Silenciosa, desenrola o pergaminho, percorre a lista fatal e, indiferente ao que se passa à sua volta, faz a chamada. Pronuncia um nome. E aponta com o dedo: «Tu, desce, porque é aqui que termina a tua viagem!...»

E não há desculpa ou pretexto que valha. É assim a Morte - imprevisível, tirânica e inexorável. Ninguém escapa ao seu chamamento. No palácio do rico ou na choupana do pobre, no dia indicado na Lei, ela bate à porta, e mesmo sem permissão, ela entra e leva consigo o "passageiro".

E é sobretudo nestes dias, - dia de Todos os Santos e Dia de Fiéis defuntos - que se recordam aqueles que já partiram. É uma festa inseparável, uma espécie de comunhão entre vivos e mortos.

Rezar pelos defuntos é como que desbravar o caminho que um dia iremos percorrer. É a nossa crença na Ressurreição e na Vida para além da morte.  

Os Egípcios, quando ofereciam grandes banquetes, costumavam expor à vista dos seus convidados um esqueleto de madeira com a seguinte legenda: «Comei, bebei e diverti-vos, mas não esqueçais que um dia sereis iguais a ele...»

Interpretação diferente davam os primeiros cristãos à morte, considerando o dia em que ela bate à porta, o dies natalis - o dia do nascimento. Morre-se para os homens, mas nasce-se para a Eternidade!   

Dia de Todos os Santos, Dia dos Fiéis defuntos. Nestes dias, enchem-se os cemitérios. Muitas flores, muitas velas, muitas orações e muitas lágrimas - umas de saudade, outras de remorso.

Mas não seriam muitas delas mais apropriadas para aqueles que estão como que amortalhados na frieza, na indiferença, no abandono, sofrendo carências de toda a ordem e por isso antecipadamente sepultados no coração dos vivos? 

E não haverá muitos que com lágrimas e flores pretendem fazer crer aos que ainda estão em vida, aquilo que não deram aos seus que já morreram!...

Como dizia o Santo: «Flores e lágrimas são alívio dos vivos, mas não refrigério dos mortos...«

 

 

O BURRO E AS MOSCAS


A certa altura da nossa recente história surgiu cá no rectângulo uma casta de indivíduos que talvez por não terem sido favorecidos na inteligência, foram compensados na esperteza. E nesse capítulo, o da esperteza, eram uns verdadeiros craques, autênticas sumidades. Um dia, cinco deles, bem-falantes e bem vestidos, juntaram-se e criaram cinco associações cujo objectivo era viver à custa do esforço alheio. Como eram muitos os burros que pacificamente pastavam nas verdes planícies do condado, a escolha recaiu na criação de uma empresa de compra dos ditos.

Propaganda feita e começou a caça dos jumentos, pois muitos andavam perdidos ou entretidos a pastar nas policromadas montanhas deste bonito jardim à beira mar encalhado. O preço de cada azémola foi fixado em 5 euros. Em breve foram comprados centenas de asnos e postos a trabalhar, fazendo girar essas várias geringonças espalhadas pelo país e às quais se dão variados nomes…

Sempre rodando, de olhos tapados e de sol a sol, os quadrúpedes em breve trouxeram grandes benefícios aos seus donos e senhores, que paulatinamente iam enriquecendo. A certa altura como os jericos começassem a escassear, uns por cansaço, outros por velhice, o preço foi aumentado para o dobro e cada novo elemento era pago a 10 euros. E foram compradas centenas de asnos...

Mas quando os Zés diminuíram o esforço na procura, decidiram os chefes que se aumentasse o preço de cada jerico para 10 euros. E todos voltaram à caça. Entretanto os animais começaram a rarear e os cinco “sócios” escafederam-se! Antes, porém, deram ordens ao tesoureiro para aumentar para 50 euros o preço a pagar por cada azémola, caso a oferta diminuísse. Mal os dois partiram, o tesoureiro, mais esperto e com a bolsa mais vazia, fez uma proposta ao pessoal:

“Olhem cá! Que tal se eu vos vendesse todos os burros a 30 euros e vocês os vendessem depois ao chefe a 50? Que dizem vocês?»

Toda a gente concordou. Reuniram todas as economias e compraram centenas e centenas de jumentos, pagando 30 euros por cada animal...

Mas como os seus “chefes”, o tesoureiro também desapareceu. E com os bolsos bem cheios. E só ficaram burros por todo o lado…

E terminou a história. O leitor percebeu?!...

Lembra-se do ditado que diz que «em terra de cegos quem tem olho é rei?» E de que «quem não quer ser burro não se deixa albardar?» Pense em tudo isso e encontrará alguns dos motivos que originaram a barafunda em que nos meteram. Quanto a burros…lembre-se daquela outra máxima que diz «que só as moscas mudam, porque o burro é sempre o mesmo…»

 

 

MAIS UM OUTONO


 
Matreiro, ele aí está!... Quente no começo e vestindo roupa de Verão, o Outono parecia querer enganar-nos. E talvez porque não gostou de ter sido mal interpretado por se ter apresentado com trajes que não eram seus, enfureceu-se, e fez trinta por uma linha – ludibriou os meteorologistas, trocou as voltas aos patrões da moda e acelerou a corrida às farmácias.

Depois, mais calmo, voltou às raízes, fez cara de mau, e aí o temos pardacento, vingativo, soprando forte, trovejante, chuvoso e frio!...

Mas, como nas etapas da vida, as estações do ano têm, também, cada uma, as suas belezas e os seus atractivos próprios. Como um pintor que mistura na sua paleta várias cores para fazer um belo quadro, assim o Outono pintalgou a Natureza com belos e variegados tons!...

A propósito, e agora que não chove, venham comigo dar uma volta pelo meu quintal: Olhem a beleza daquela mistura de cores, de todo o cambiante das folhas das videiras, além, na parreira. Apreciem este gigantesco porco-espinho que é o castanheiro, com os seus ouriços, alguns de boca aberta, rindo, mostrando os dentes – as castanhas!

Vejam aqui as romãs, coradas, macias, como a tez de um bebé recém-nascido. Ali à direita, vejam a groselheira com os seus frutos vermelhos – o supermercado da passarada!

Lá ao fundo, o azevinho e as suas bolinhas: umas verdes, outras acastanhadas, outras cores do carmim… A nogueira, carregada de frutos, alguns com o invólucro ainda verde, outros já abertos com as nozes prestes a cair! 

E aqui a contrastar com o despontar de novos frutos, o fim das rosas com a queda das pétalas que juncam o chão e fazem um tapete multicolor e viscoso. O princípio e o fim. Como na vida. Uns nascem e outros morrem!...

E este cheiro característico das uvas em decomposição, que ao misturar-se com esta fragrância que se exala da terra fecundada pela chuva, produz em nós uma sensação de tão indizível bem-estar e de tanta espiritualidade que se torna impossível descrever?!...

E a carícia deste brando vento vindo da Serra do Caramulo que faz estremecer as folhas das laranjeiras e desprender as gotas de água que caem na terra como lágrimas de alegria e de reconhecimento pela chuva, a riqueza que veio do Céu!

Encham os pulmões com este ar puro e sorvam esta brisa fresca e saudável que tonifica o corpo e reconforta a alma!

É Outono, caem as folhas. Na Natureza como na Vida, há sempre Deus. Há fim, e há recomeço. Há sempre beleza. Há encanto, e há sempre um sonho que se desfaz, e uma esperança que renasce...