Sorridentes,
bronzeados, barrigudos, palradores e descontraídos, ei-los que chegam. É o
regresso dos nossos ilustríssimos e denodados filhos da pátria que depois de um
descanso merecido (?) vêm de novo ocupar as almofadadas cadeiras dos seus
confortáveis, luxuosos e climatizados departamentos.
É a “rentrée” política! Não sei por que
apareceu no nosso tão rico vocabulário este francesismo. O que sei é que nos
tempos que correm é de bom-tom usar essa expressão. Parece que ela confere aos
que a pronunciam um certo ar de intelectualidade
e sapiência! Puro fingimento, claro, mas como hoje “o parecer” é mais
importante do que “o ser”, são muitas as vantagens da camuflagem.
Seja
como for, o certo é que há ainda muitos ingénuos que depositam neste regresso
dos nossos mandantes muitas esperanças convencidos de que eles vêm de facto com
vontade de melhorar as coisas! Mentira. E é lamentável que ainda se não tenha
percebido que é necessário e urgente operar uma revolução que se traduza numa
mudança de mentalidades. É urgente que se deixe de falar tanto na tal “rentrée”
política e se fale antes e mais na “rentrée” de todos nós.
É que, inadvertidamente ou por comodismo
vamos adiando dia após dia a nossa efectiva “rentrée”, a nossa entrada ou seja
a exigência dos nossos direitos de contribuintes. Pagamos, cumprimos, mas não
denunciamos as injustiças ou as arbitrariedades de que somos vítimas. Há muita
gente que quando se queixa, o faz apenas para amigos e sempre em voz baixa,
quase em segredo. Parece existir uma “barreira” que os impede de reivindicar o
que lhes é devido em troca dos impostos que pagam. Há dias quando alguém se
queixava de ter sido mal recebido num serviço público e o aconselhávamos a que
denunciasse o caso por escrito, a resposta que obtivemos ilustra bem o círculo
vicioso em que vivemos:- Ah! Isso não, porque tenho lá gente de família a
trabalhar e isso poderia prejudicar-lhes a carreira...
É este o País em que vivemos! Um país de
comprometidos; um país em que famílias inteiras chegam a ocupar e dirigir uma
repartição completa; um país de cunhas, de padrinhos, de troca de favores, de
vergonhoso e descarado compadrio. Por tudo isso não serão os políticos,
qualquer que seja a cor da camisola que enverguem, a pôr termo a este monopólio
de benesses e de lugares públicos e a toda esta falta de competência e de brio profissional
que reina por aí.
Só a nossa “rentrée”, o nosso regresso
aos tradicionais valores da honra e da moral, e um combate sem tréguas
denunciando por escrito os abusos do poder, a prepotência, a falta de civismo e
a corrupção, poderá pôr fim a esta onda de anarquia que dá origem a todo este regabofe
que reina de norte a sul do país. Se hoje não participarmos nesse combate, não
poderemos queixar-nos do que possa surgir amanhã. E, por vezes, a cumplicidade
também é crime.
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