Houve um tempo em que aqui na nossa
Europa Ocidental, sabíamo-nos mais prósperos e com melhor nível de vida, à
excepção de outros países, como a América do Norte, a Austrália, o Japão e,
evidentemente, os do Golfo Pérsico. Éramos mais pobres do que os suíços, que os
noruegueses, mas mais ricos do que os chineses. E isso era para cada um de nós
tão normal como o facto de o nosso céu ser um dos mais azuis do Mundo!
Além disso julgávamo-nos mais
civilizados, mais educados, mais cultos e mais tolerantes que todos os outros
povos do mundo. A nossa vida era boa e mantínhamos as nossas tradições com
orgulho e até, por vezes, com uma vaidade exagerada.
Porém, a certa altura, os dias felizes
de tanta prosperidade passaram a ser menos felizes e com muito menor
prosperidade…
E deu-se o reverso. As empresas
começaram a fechar, o desemprego aumentou. E então os governantes começaram a
explicar o inexplicável, fazendo promessas para a resolver e criar empregos. E
continuaram a prometer, mas sempre com os desempregados a aumentar, o dinheiro
para viver a escassear e a frustração e o desespero a apossar-se dos mais
pobres.
E então chegámos a esta situação que
todos conhecem. E com a nossa tradicional bonomia adoptamos a teoria do senhor
Pangloss que afirmava que as coisas acontecem, porque têm mesmo que
acontecer...
E a todo esse emaranhado complexo de
problemas por que estamos a passar, de ordens e contra-ordens, de
originalidades que nunca imaginámos, - como a de pôr na rua o ladrão e mandar a
julgamento o polícia, que se atreveu a prendê-lo - a todo este emaranhado de
coisas, repito, se deu o nome de crise, que tudo abrange e explica tudo o que
de mau nos acontece. E ordena-se o corte de vinhas, de oliveiras; obrigam-se os
pescadores a deitar o pescado ao mar; desincentivam-se os agricultores a
semear, tudo isso porque a fartura é antieconómica!...
Enquanto isso, as populações de chamado
“interior” são esquecidas e os já escassos sinais de “civilização” que ainda
existem, - escolas, postos de saúde, correios, etc. – são suprimidas ou
deslocalizados para as cidades onde tudo se concentra.
Por tudo e por nada e obedecendo ao
Progresso do cimento armado, construíram-se auto-estradas que serpenteiam o
País, - algumas sem tráfico que justifique a sua existência – há festas, há
certames, há exposições, há inaugurações e as Finanças, sem bússola, batem no
mexilhão, porque na rocha ninguém lhe toca. É a crise! E é inútil gritar,
combatê-la, porque os seus tentáculos espalharam-se pelo País inteiro…
E há ricos cada vez mais ricos e pobres
cada vez mais pobres. É a crise. E se há culpados, não há julgamento. Os Tribunais
só julgam pequenos delitos!
Sem comentários:
Enviar um comentário