segunda-feira, agosto 31, 2015

A CRISE


Houve um tempo em que aqui na nossa Europa Ocidental, sabíamo-nos mais prósperos e com melhor nível de vida, à excepção de outros países, como a América do Norte, a Austrália, o Japão e, evidentemente, os do Golfo Pérsico. Éramos mais pobres do que os suíços, que os noruegueses, mas mais ricos do que os chineses. E isso era para cada um de nós tão normal como o facto de o nosso céu ser um dos mais azuis do Mundo!
Além disso julgávamo-nos mais civilizados, mais educados, mais cultos e mais tolerantes que todos os outros povos do mundo. A nossa vida era boa e mantínhamos as nossas tradições com orgulho e até, por vezes, com uma vaidade exagerada.
Porém, a certa altura, os dias felizes de tanta prosperidade passaram a ser menos felizes e com muito menor prosperidade…
E deu-se o reverso. As empresas começaram a fechar, o desemprego aumentou. E então os governantes começaram a explicar o inexplicável, fazendo promessas para a resolver e criar empregos. E continuaram a prometer, mas sempre com os desempregados a aumentar, o dinheiro para viver a escassear e a frustração e o desespero a apossar-se dos mais pobres.
E então chegámos a esta situação que todos conhecem. E com a nossa tradicional bonomia adoptamos a teoria do senhor Pangloss que afirmava que as coisas acontecem, porque têm mesmo que acontecer...
E a todo esse emaranhado complexo de problemas por que estamos a passar, de ordens e contra-ordens, de originalidades que nunca imaginámos, - como a de pôr na rua o ladrão e mandar a julgamento o polícia, que se atreveu a prendê-lo - a todo este emaranhado de coisas, repito, se deu o nome de crise, que tudo abrange e explica tudo o que de mau nos acontece. E ordena-se o corte de vinhas, de oliveiras; obrigam-se os pescadores a deitar o pescado ao mar; desincentivam-se os agricultores a semear, tudo isso porque a fartura é antieconómica!...
Enquanto isso, as populações de chamado “interior” são esquecidas e os já escassos sinais de “civilização” que ainda existem, - escolas, postos de saúde, correios, etc. – são suprimidas ou deslocalizados para as cidades onde tudo se concentra.
Por tudo e por nada e obedecendo ao Progresso do cimento armado, construíram-se auto-estradas que serpenteiam o País, - algumas sem tráfico que justifique a sua existência – há festas, há certames, há exposições, há inaugurações e as Finanças, sem bússola, batem no mexilhão, porque na rocha ninguém lhe toca. É a crise! E é inútil gritar, combatê-la, porque os seus tentáculos espalharam-se pelo País inteiro…
E há ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. É a crise. E se há culpados, não há julgamento. Os Tribunais só julgam pequenos delitos! 





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