quinta-feira, agosto 20, 2015

AMANHÃ PODE JÁ SER TARDE...


 

Eis uma frase que adoptei como lema na década de 60 e que ainda hoje me serve de guia. Em 1965 escrevi-a num papel e mandei-a copiar para uma chapa de ferro, que depois, e à guisa de brasão, encimei com uma casa em miniatura, no interior da qual coloquei uma lâmpada, que irradia luz.

Como na língua do País onde então me encontrava não existia o til, o copista substitui-o por um acento circunflexo.

Na altura pensei corrigir o erro, mas perante o sorriso de satisfação do “artista” quando me entregou a “obra”, desisti de o fazer. Afinal a gralha até tinha a sua piada, pois o amanhâ com o chapéu ficaria mais protegido das “intempéries” da vida!

Durante anos o “brasão” manteve-se afixado numa espécie de pátio da casa onde habitei. Era um espaço interior a céu aberto, com canteiros de flores e duas buganvílias, uma branca e outra vermelha.

Era lá que tomávamos o pequeno-almoço naquelas manhãs quentes e peganhentas de África!

Hoje, “o meu lema” encontra-se em destaque por cima da minha lareira – o meu refúgio no Inverno, pois como vos tenho dito, sou um friorento como não deve haver igual.

Mas, como tudo na vida, a divisa em questão tem uma história: Logo no início dos meus trabalhos no Continente Negro, e apesar de me encontrar num dos locais mais recônditos daquele País, longe de tudo e de todos, o primeiro dinheiro que ia ganhando, aplicava-o em variados utensílios de casa e em livros.

Passados alguns anos pode dizer-se que tinha tudo o que é necessário numa casa -utensílios de uso diário, uma biblioteca onde podia esclarecer dúvidas, um rádio, por intermédio do qual, em onda curta, ouvia as notícias da Pátria distante, e até, confesso, coisas supérfluas…

No entanto, muitas vezes privávamo-nos de utilizar o que tínhamos para não estragar ou para, eventualmente, nos acompanhar aquando do regresso definitivo!

Guardávamos tudo quase religiosamente. Até que um dia… ficámos reduzidos à roupa que tínhamos vestido. Perdemos tudo!

As convulsões políticas na região fizeram com que ficassem apenas as paredes da casa…

E eis o motivo por que a partir daquela data nunca mais deixei o certo pelo duvidoso, isto é, nunca mais deixei de sorver todos os momentos da vida e sempre que posso, “vivo o “hoje” como se fosse o último dia da minha vida”, porque... «Amanhâ pode já ser tarde...!»

 

 

 

 

 

 

 

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