O conflito entre gerações foi,
ao longo dos séculos, sempre difícil de gerir e quase sempre impossível de
evitar. Hoje, os confrontos são diários e preocupantes. Reportando-nos aos
meios rurais, que melhor conhecemos, assistimos, por vezes, a comportamentos que
deitam por terra todos os conceitos tradicionais que durante muito tempo
pautaram a convivência familiar.
Houve um tempo em que a
educação adquirida no seio da família era uma espécie de carapaça que permitia
resistir a quaisquer investidas externas, fosse qual fosse a sua força ou
proveniência. A obediência e o respeito constituíam a base da sua formação. Em
qualquer família, da mais rica à mais humilde, eram esses os principais
ingredientes usados na preparação do futuro. Tudo mudou, e em cada dia que
passa, os solavancos da mudança provocam cada vez mais safanões na sociedade.
E vezes sem conta, é difícil
determinarmos, com certeza, o verdadeiro culpado. No entanto - embora, por
vezes, vejamos um mau comportamento num filho de pais moralmente exemplares -
continuo a pensar que muitos dos problemas com que se debate a juventude têm a
sua origem na família.
Porque a
"engrenagem" a isso obriga, desde a mais tenra idade, as crianças são
separadas da célula familiar, do carinho dos pais e do lar, e entregues a Jardins-de-infância,
Infantários ou a Colégios. E nem em todos esses locais existem as condições
próprias e humanas para as formar...
Há ainda a acrescentar a essa
situação, o caso de certos pais modernos que, por falta de tempo, tentam
conquistar a afectividade dos filhos, fazendo-lhes todas as vontades,
satisfazendo-lhes todos os caprichos, comprando-lhes, (mesmo com grandes
sacrifícios) tudo o que os meninos exigem.
Do somatório de tudo isto, não
admira que a agressividade, a indisciplina, a propensão para brigas e o
desrespeito pelos mais velhos sejam muitas vezes tidos por comportamentos
normais da juventude do nosso tempo!
Nesta correria desenfreada,
nesta insatisfação constante e com este egoísmo exacerbado que tomou conta da
nossa sociedade, o conflito de gerações está a transformar-se cada vez mais num
fenómeno sociológico de consequências imprevisíveis. Há já aqueles que situam o
"Avô" na área da arqueologia e o considerem como parte integrante de
um arquivo histórico e poeirento. Para muitos jovens, o "Avô" defende
ideias reaccionárias, segue princípios desactualizados, ignora as novas
tecnologias e, por isso mesmo, emperra o progresso! A sabedoria dos mais velhos
é hoje ridicularizada e os mais novos afirmam-se os exclusivos detentores de
toda a sapiência. Que assim seja!...
No entanto, e mesmo correndo o
risco de ser acoimado de reaccionário ou de saudosista, continuo convencido de
que a Escola coadjuva, mas nunca pode remediar o que faltou em casa. É em casa,
no seio da Família, que deve começar a orientação dos homens do futuro. O que
parece é que há cada vez menos famílias preparadas para levar a cabo essa
complexa missão.
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