Tive sempre muita dificuldade em conviver ou trabalhar com pessoas
prepotentes. Infelizmente, pese embora as penosas circunstâncias em que
vivemos, o que mais se vê por aí são esses exemplares presunçosos, egoístas e
geralmente mal formados.
O principal problema da prepotência é que ela parte de um princípio
absolutamente improvável.
O prepotente julga-se sempre o mais apto, o melhor, o mais capacitado,
o mais conhecedor seja qual for a área em que exerce a sua influência. Muitos
deles conseguem até pensar que são “mais” e “melhores” em várias áreas
simultaneamente!
Os prepotentes são pessoas de difícil trato, conseguem afastar os
outros de si mesmo, estabelecendo uma certa distância em relação aos demais.
Não são sociáveis, mas não percebem por que não o conseguem.
Os prepotentes têm complexos de inferioridade e por isso espezinham os
outros, porque não conseguem suportar o seu sentimento interno de pequenez.
Um dos postulados mais básicos da filosofia já diz que, quanto mais se
sabe, mais se sabe que não se sabe nada ou, dito de outra maneira, quanto mais
conhecimento se adquire, mais se tem a noção de que ainda se tem muito que
aprender.
Há ainda uma outra característica, talvez ainda mais perigosa, que é a
infalibilidade. Os prepotentes acreditam que são infalíveis.
Eles nunca erram. Ou, se erram, não admitem que a culpa possa vir deles
próprios. A culpa é sempre e só dos outros.
Como a prepotência anda sempre de braço dado com a arrogância - ambas
filhas do mesmo complexo de inferioridade - o prepotente defende-se, passando
certificados de ignorância e de incapacidade a tudo e a todos, sem nunca
assumir que alguma vez se possa ter enganado.
Talvez eu tenha sido educado de forma errada mas, para mim, errar faz
parte do processo de aprender. Para o prepotente, porém, a palavra “errar” não
existe.
Nenhuma criança começa a caminhar quando completa nove meses de idade.
Tudo, na Natureza, é feito por etapas, tudo faz parte de um processo: a criança
começa por gatinhar, por dar quedas, por se levantar, manter-se uns instantes
de pé e só depois de algum tempo consegue manter o equilíbrio e, finalmente
atingir o modo normal da locomoção.
Durante a minha já longa caminhada tenho notado que aqueles que querem
correr mais depressa subestimando a marcha do companheiro do lado, geralmente
acabam, de facto, por chegar primeiro, mas enchem-se de tanta sapiência balofa
que, terminam o “percurso” sozinhos, sem amigos que os aplaudam. Aprender a ser
um cidadão de corpo inteiro é um processo crescimento contínuo. E esse crescimento deve ser acompanhado de
muita compreensão, de muito respeito pelos outros e sobretudo de muita
humildade. Infelizmente vivemos numa sociedade onde o poder se confunde com
prepotência. Não há vergonha, não há integridade. O nosso quotidiano é fértil
nesses episódios.
Sem comentários:
Enviar um comentário