sexta-feira, setembro 06, 2013

A PROPÓSITO DE LEITURA


Sempre gostei muito de ler. Houve um período na minha vida em que, além de minha mulher, a minha companheira favorita era a leitura.
Não tínhamos vizinhos, vivíamos isolados em plena floresta tropical numa casa coberta com colmo e rodeada de seringueiras. 
Do Mundo, as notícias chegavam-nos através da Rádio na banda das “ondas curtas” que por vezes se tornavam “curtíssimas”, pois a audição era péssima.
Não tínhamos luz eléctrica e às seis da tarde a noite caía. Havia, por isso, necessidade de ocupar o tempo – as longas noites de África. E a leitura era o nosso refúgio. À luz da “Coleman” ou da “Petromax”…
Em 1951 entrei para o «Clube do Livro» da Bélgica, e de mês a mês lá chegava o barco com os víveres, as cartas e os livros!
E, como costuma dizer-se, “devorava-os”! Tomava notas. Exprimia a minha opinião, a lápis, nos espaços em branco. Ora concordava com as ideias expressas, ora era contra.
Já nesse tempo fazia parte dos que apadrinham o conceito de que um livro tem sempre dois autores: o que o escreve e aquele que o lê. Nalguns, as minhas notas quase faziam desaparecer algumas das frases do autor. Infelizmente, quase todos foram queimados aquando do despertar dessa onda de “liberdade” que varreu o Continente negro na década de sessenta. 
Há dias, encontrei na minha estante, um dos que escapou à fúria dessa turbamulta: «Les Saints vont en Enfer», de Gilbert Cesbron.
E foi esse que motivou esta minha crónica de hoje. Um livro que gerou bastante polémica nesses longínquos tempos, mas que acabou por se afirmar e se tornar uma obra de referência do escritor.
E é porque até só o prefácio tem muito a ver com o que penso e com a minha maneira de estar na vida, – sobretudo quando denuncio injustiças e defendo o povo do qual honrosamente faço parte – que traduzi, à intenção dos leitores, um pequeno excerto: 
 «Eis um livro que vai desagradar a muita gente. Mas será que a prudência é, ainda, uma virtude?
Num mundo em que aqueles que falam a mesma língua não se conseguem fazer perceber sem um intérprete; num tempo em que os mediadores são assassinados e a honra esquartejada; neste século em que reina a cruz sem o Cristo, eu não quero ser de nenhum partido. O que vi entre os seus membros é mais do que suficiente para que tome esta decisão. Assim eu nunca deixarei a mão dos homens no meio dos quais eu cresci….»
Inteligentes que são, os meus leitores compreenderão o que quero dizer… e o porquê das alfinetadas de algumas das minhas crónicas.































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