Apoiada
numa “aranha” a velhinha estava junto à passadeira. Olhar suplicante esperava
que algum automóvel abrandasse para que pudesse atravessar a estrada. Quando
chegou a minha vez, parei, e fiz sinal à anciã para passar. Entretanto, alguém
buzinou atrás de mim. Olhei pelo retrovisor e fiquei estupefacto: uma senhora
gesticulava e pelos movimentos da boca percebi que me dirigia “elogios” por ter
parado! Voltei a olhar. E então, vendo que a olhava, levou o dedo à testa
naquele gesto que todos conhecem… Incrível como uma jovem tem atitudes
destas!...
Tentei
decorar a matrícula ou seguir o carro, mas infelizmente não consegui uma coisa
nem outra. É que gostaria de lembrar àquela jovem senhora que, um dia, talvez
ela poderá ter também necessidade que alguém pare para ela atravessar a
estrada….
Não
sei se já se aperceberam, mas o automóvel modifica de tal maneira o
comportamento de certos indivíduos, que ficamos por vezes perplexos vendo a
transformação que se opera neles quando por vezes nos ultrapassam a grande
velocidade e nos olham com desdém, como se fossem verdadeiros donos e senhores
da estrada, e nós uns empecilhos ou uns atrasados mentais. E é tão evidente
essa transformação que chego a convencer-me que esses kamikazes do volante confundem carta de condução com uma autorização
legal que lhes confere o direito de a transformarem numa “ licença para matar!“
Muitos
dos indivíduos que vemos por detrás daquela rodinha que dá pelo nome de
volante, não conduzem: - são suicidas disfarçados, desconhecedores das mais
elementares regras do Código da Estrada. Consciente ou inconscientemente eles
distraem-se brincando não só com a própria vida, como também com a dos que
cumprem e respeitam rigorosamente as normas da condução.
Era
comum ouvir-se, aqui há anos, que a culpa era das estradas, porque estreitas e
de piso irregular. Para outros, a acusação recaía sobre os veículos, pois o
nosso parque automóvel era dos mais velhos do Mundo e, assim, as máquinas que
circulavam nas nossas rodovias eram velhos calhambeques ou caranguejolas
multicores, que gingando e fumegando, lá iam atroando os ares com as suas
estridentes buzinas, semeando o pânico e a morte.
Hoje
tudo isso foi ultrapassado e tanto o estado das estradas como as
características dos veículos mudaram completamente. No entanto e apesar de tudo
isso a taxa de sinistralidade em Portugal continua a ser uma das mais elevadas
de Europa. Aumentam-se as multas, triplicam-se os efectivos das Brigadas de
Trânsito, adquirem-se novos equipamentos de fiscalização, mas os resultados são
nulos e cada vez se morre mais nas estradas portuguesas. A semana passada
ilustra de forma inequívoca essa realidade.
E
a sinistralidade continuará enquanto não se adoptar uma pedagogia adequada para
acabar de vez com a falta de educação e civismo dos condutores portugueses. Não
vai ser fácil. Mas é urgente que se pense nisso. Nenhuma outra solução
resultará.
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