sexta-feira, março 04, 2016

EXCELÊNCIA


 
Sempre que sai um e entra outro, costumo escrever uma carta ao responsável que se senta na cadeira que Vossa Excelência agora ocupa. Mas como nunca recebi resposta e desconfiando dos chefes de gabinete em geral e das secretárias em particular, resolvi aproveitar este espaço que me é cedido neste Jornal para lhe enviar um agradecimento pessoal, público e intransmissível.
Aqui estou, pois, a agradecer-lhe penhoradamente o aumento que fez o favor de me conceder, elevando o valor da minha pensão que, entre nós, - e falando de contribuinte para governante – era mesmo uma vergonha! De facto, mais de meio século a trabalhar - sem nunca me ter sentado à mesa do orçamento, pagando sempre os meus impostos, e sem nunca ter “abichado” um cargo apadrinhado - a pensão que recebia, era uma autêntica injustiça!...
V. Exa., embora tarde, quis dar uma lição aos seus predecessores e zás!... Reparou o mal, e mostrou que de facto vivemos em democracia e que o povo também conta... Em verdade, se alguns conseguem um montão de notas em poucos anos, subvenções vitalícias, reformas faraónicas e coisa e tal, porque é que o Zé pagante, o Zé-trabalhador não há-de ter direito também a ser lembrado?
Por isso e como ia dizendo, Excelência, o aumento que me concedeu, - os 0,60 cêntimos de aumento por mês vão fazer-me um jeitão!
Ainda não pensei o que irei fazer com eles, mas sou capaz de aceitar a sugestão de minha mulher, a quem aumentaram também mais ou menos a mesma quantia. A sua opinião é de que, juntamente com os nossos colegas - contemplados com a mesma importância - se erga, em frente da Assembleia da República, uma estátua ao “Mentiroso”, assente num pedestal com a forma de um saco…de promessas!
Claro que isto é um desabafo, pois todos sabemos que é sempre o mexilhão que se lixa e que na terra de cegos quem tem olhos é rei, sobretudo quando se entra nos “terrenos da política”. No meu tempo de menino e moço – princípios do século XX - já se dizia que o nosso grande Camões morreu pobre, porque tinha trocado os “Lusíadas” pela política…
Mas falando agora a sério. Sua Excelência não se sente incomodado, nem um poucochinho, por ter feito tanta promessa e não ser capaz de cumprir as mais ingentes, sobretudo no campo social?
Não acha que a história dos 60 cêntimos além de ser uma injustiça é também um ultraje aos pobres e aos velhos que têm uma pensão de miséria?!...
Gostaria de continuar a conversa, mas acabou o meu espaço. Até breve.

 

 

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