Todas
as semanas para escrever a minha crónica semanal, o que me vem à memória, é discorrer
sobre os variados acontecimentos deste nosso complicado quotidiano. Mas
assalta-me logo a mesma interrogação – valerá a pena?
Valerá
a pena apontar e denunciar os males que corroem a nossa sociedade? Valerá a
pena, neste nosso pequeno mundo materialista e desumanizado, dominado pelo
egoísmo, pelo dinheiro, pela política e pelo futebol, denunciar injustiças? Valerá
a pena falar de pobreza, de exclusão social, de irresponsabilidade, de
prepotência, de abuso de poder, de descriminação, de incompetência e de falta
de humanismo?
Valerá
a pena chamar a atenção dos que têm tudo, e convidá-los a partilhar as sobras,
com os que nada têm?
Valerá
a pena, ir aos livros já esfarrapados da minha Universidade, – que foi a da
Vida – folheá-los, e apontar exemplos, citar experiências, transcrever
capítulos inteiros de factos vividos em que o trabalho, a humildade, a
perseverança, o respeito, a educação e a honra são os elementos criadores de
homens íntegros, responsáveis, cumpridores, amantes da Verdade, da Justiça e da
Moral?
Conseguirei
penetrar no coração empedernido dos que vivem em palácios onde nada falta, e
acordá-los, convidando-os a espreitar a miséria, o frio e a fome dos milhares
de homens mulheres e crianças que vivem ou que se escondem nas ruas, debaixo de
um pedaço de cartão?
Valerá
a pena apontar como urgente e imperiosa a necessidade da conjugação dos
esforços de todos para uma total humanização nos sectores da vida nacional,
mormente na saúde, na justiça, na educação e na segurança social?
Serei
capaz de convencer os que mandam, fazendo com que exerçam o seu trabalho com
inteligência, humanismo, justiça e com espírito de isenção e partilha?
Valerá
a pena apelar aos que ocupam os mais altos cargos, aos que detêm o poder de
decisão para que saiam dos seus confortáveis gabinetes de Lisboa e venham até
ao País real, – não de fugida – mas com tempo suficiente para se inteirarem do
difícil dia-a-dia de muitos dos que neles votaram? O drama das democracias
reside essencialmente na infidelidade aos valores cristãos que lhes servem de
alicerce. Presentemente, o que acontece é que enquanto se valoriza o dinheiro,
assiste-se à vertiginosa desvalorização da honra e da moral. Advêm daí os meus
desencontros com os tempos em que vivemos e a certeza de que o que escrevo
possa servir para melhorar seja o que for…
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