quarta-feira, novembro 13, 2013

NO SILÊNCIO DA NOITE


Vivemos numa sociedade tão competitiva, egoísta, invejosa e apressada que quase ninguém arranja tempo para um recolhimento interior. São poucos os que sacrificam uns minutos da correria para reflectir, não só no caminho percorrido, mas também na forma e no comportamento que devem adoptar na etapa desconhecida que falta percorrer.
Sempre com o vizinho à perna ou mesmo lado a lado, percorrem-se quilómetros muitas vezes sem trocar palavra, mas alimentando sempre na mente o desejo de chegar primeiro.
É assim a vida do dia-a-dia. Materialista e competitiva. Invejosa e apressada.
A cada passo, sobretudo nos grandes meios, cruzamo-nos com rostos chorosos, melancólicos que denunciam a ferocidade das lutas que se travam bem no fundo das suas almas.
São batalhas quase sempre motivadas por afrontas, por injustiças, desigualdades, e também pelo materialismo reinante nesta nossa sociedade actual que maltrata os honestos e privilegia os trapaceiros.
E nesta amálgama de sentimentos e de confusões são poucos os que conseguem escapar imunes às garras do pessimismo, do desânimo e do desespero!
Como é difícil conservar o optimismo num mundo em que as lutas não cessam e em que tudo se move, tudo se decide e tudo se consegue a poder de dinheiro! Muitos vivem alegres ou tristes consoante o saldo da sua conta bancária…
Tudo se vende, tudo se compra. Não há escrúpulos. Luta-se mais pelo Ter do que pelo Ser. Quando se tem, não importa o que se é. Não há barreiras. Não se respeitam valores, hierarquias ou sentimentos. O saldo do Banco funciona como um tira-nódoas…
E nada resiste a esse elixir: ofensas, calúnias, falcatruas, prepotência, injustiças, tudo isso desaparece após a sua aplicação. Muitas vezes, até a voz da consciência, impotente, emudece!
Talvez pela idade, em cada dia que passa, as minhas reflexões sobre a vida, tornam-se mais frequentes. E quanto mais profunda é essa reflexão, mais me convenço de que a afirmação cristã da vida é o caminho que nos concede mais dignidade humana e nos traz mais tranquilidade espiritual nesta sociedade em que o consumismo a todos tenta transformar em escravos do supérfluo.

Vai alta a noite, mas continuo a escrever. Deixo-me arrastar pela escrita e mesmo convencido que não vou a lado nenhum, que nada mudo, que ninguém “converto”, aqui continuo. E vou escrevendo, esquecendo o peso dos meus Invernos, pensando na Primavera, e trocando os encontrões do dia-a-dia por um pequeno nada da vida, por uma réstia de sonho.

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