Vivemos numa
sociedade tão competitiva, egoísta, invejosa e apressada que quase ninguém
arranja tempo para um recolhimento interior. São poucos os que sacrificam uns
minutos da correria para reflectir, não só no caminho percorrido, mas também na
forma e no comportamento que devem adoptar na etapa desconhecida que falta
percorrer.
Sempre com o vizinho à perna ou mesmo
lado a lado, percorrem-se quilómetros muitas vezes sem trocar palavra, mas
alimentando sempre na mente o desejo de chegar primeiro.
É assim a vida do dia-a-dia.
Materialista e competitiva. Invejosa e apressada.
A cada passo, sobretudo nos grandes meios,
cruzamo-nos com rostos chorosos, melancólicos que denunciam a ferocidade das
lutas que se travam bem no fundo das suas almas.
São batalhas quase sempre motivadas
por afrontas, por injustiças, desigualdades, e também pelo materialismo
reinante nesta nossa sociedade actual que maltrata os honestos e privilegia os
trapaceiros.
E nesta amálgama de sentimentos e de
confusões são poucos os que conseguem escapar imunes às garras do pessimismo,
do desânimo e do desespero!
Como é difícil conservar o optimismo
num mundo em que as lutas não cessam e em que tudo se move, tudo se decide e
tudo se consegue a poder de dinheiro! Muitos vivem alegres ou tristes consoante
o saldo da sua conta bancária…
Tudo se vende, tudo se compra. Não há
escrúpulos. Luta-se mais pelo Ter do que pelo Ser. Quando se tem, não importa o
que se é. Não há barreiras. Não se respeitam valores, hierarquias ou
sentimentos. O saldo do Banco funciona como um tira-nódoas…
E nada resiste a esse elixir: ofensas,
calúnias, falcatruas, prepotência, injustiças, tudo isso desaparece após a sua
aplicação. Muitas vezes, até a voz da consciência, impotente, emudece!
Talvez pela idade, em cada dia que
passa, as minhas reflexões sobre a vida, tornam-se mais frequentes. E quanto
mais profunda é essa reflexão, mais me convenço de que a afirmação cristã da
vida é o caminho que nos concede mais dignidade humana e nos traz mais
tranquilidade espiritual nesta sociedade em que o consumismo a todos tenta
transformar em escravos do supérfluo.
Vai alta a noite, mas continuo a
escrever. Deixo-me arrastar pela escrita e mesmo convencido que não vou a lado
nenhum, que nada mudo, que ninguém “converto”, aqui continuo. E vou escrevendo,
esquecendo o peso dos meus Invernos, pensando na Primavera, e trocando os
encontrões do dia-a-dia por um pequeno nada da vida, por uma réstia de sonho.
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