A luta pela sobrevivência é
cada vez mais renhida. E sendo o direito de viver um dos mais sagrados, não
admira que os povos tomem cada vez mais consciência de que toda a gente tem,
por direito natural, um lugar ao sol.
E nessa vontade incontida de
encontrar esse lugar soalheiro, o mal é que, nos tempos que correm, tanto os
povos como a s pessoas, tentam conquistá-lo levados por um sentimento de egoísmo
tão feroz e dominador que não lhes deixa tempo disponível para a prática da
verdadeira solidariedade e altruísmo.
Toda a gente sabe que as
expressões direito dos povos e bem
comum não passam de sofismas e ambiguidades usadas pela classe política
nacional para adormecer os ingénuos que
ainda acreditam nesses manipuladores de consciências.
Vivemos numa Sociedade
apostada num ânsia desmedida de prazeres e de proventos de ordem material. São
muitas as diferenças entre as suas classes e enquanto a mais desfavorecida
trava uma luta inumana para a sua sobrevivência, as outras, com mais ou menor
sofreguidão, participam numa corrida desenfreada com o único objectivo de
açambarcar a Vida para que dela possam matar a sua voraz fome de riqueza e de
domínio.
E o mais curioso e irónico é
que esse demoníaco jogo, essa sede de lucros quer entre as classes quer entre
as nações, tem sempre como “trunfo” essas ingénuas expressões direito dos povos e bem comum.
O Homem vai assim consumindo
nessa vertigem de loucura, e quase sem se aperceber, os momentos de felicidade
que a Vida lhe poderia oferecer se cultivasse os nobres sentimento de partilha
e de solidariedade.
É tão grande a vontade de
obter um cargo bem remunerado, que nem sequer se põe a questão da capacidade
profissional. Os exemplos abundam, mas os mais flagrantes acontecem no campo da
política em que a qualificação e a experiência de nada servem para a atribuição
de cargos, alguns com chorudas remunerações.
Mais do que um diploma ou a
possessão de conhecimentos científicos, literários, artísticos ou filosóficos,
um simples cartão de um partido ou a cunha de um bom padrinho bastam para catapultar
qualquer semi-analfabeto a um cargo superior!
A esta inversão de valores
junta-se a degradação do sistema, acabando este binómio por estabelecer uma
espécie de cumplicidade de que resultará mais tarde ou mais cedo a lei do vale tudo.
Diz-se alto e bom som que o
país está à beira da falência, da ruina. E tudo indica que assim seja. No
entanto, nesta nossa democracia caquéctica com um grupo de partidos que não se
entende, mas que luta mutuamente em defesa do seu “estatuto”, é fácil concluir
qual será o nosso destino como nação. A Imprensa traz-nos diariamente notícias
de desvios de dinheiros, subornos e outras negociatas. Por vezes, de gente que
ocupa altos cargos. De vez em quando, um figurão vai preso, mas não se passa
disso…
Às vezes apetece-me
parafrasear Almada Negreiros e dizer para com os meus botões que «é tão
criminoso ser ladrão no meio de gente honesta, como ser honesto no meio de
ladrões…»