Sinto-me
orgulhoso de ser filho desta ruralidade, deste pequeno mundo, deste símbolo de
vida comunitária, desta minha aldeia humilde, mas onde ainda perduram alguns
dos mais preciosos valores de antanho.
Não
faço do passado emblema, mas confesso que em certos momentos sinto essa antiga
aldeia a pular no coração.
E
sinto-a, porque ela ainda existe na alma de quem acredita em Deus, de quem não
esqueceu os ditames da cartilha do amor e da solidariedade aprendidos nesse
grande livro, a célula-mãe, que é a Família - o baluarte espiritual do amor!
Nas
horas de angústia é a ela que podemos recorrer, porque ele socorre, ela
auxilia, ela perdoa, ele acarinha, ela dá afecto, ela dá força para transpor
todos os obstáculos da vida.
Por
vezes há também problemas que são o reflexo da sociedade em que vivemos, uma
sociedade cheia de injustiças e contradições. No entanto, quando a Família está
unida, quando o amor tem raízes profundas e quando se faz dela uma partilha,
até o sofrimento dói menos e as horas mais incertas e difíceis se transformam
em hinos de alegria
Vem
este introito a propósito da notícia publicada há dias na coluna do Tourigo sob
o título um “Gesto de Amor Fraternal” e que demonstra à saciedade que nestes
pequenos espaços geográficos que são as aldeias do País real, há ainda valores
que resistem e que, como disse João Paulo II no seu livro Memória e Identidade, “são luzes que iluminam a existência”.
O
Alexandre é casado, tem 3 filhos. Seu irmão André, também casado, tem uma filha.
O Alexandre precisava urgentemente de um rim. O André, apesar de todos os
riscos, os laços de sangue e a voz da fraternidade falaram mais alto – e não
hesitou!… A cirurgia teve o maior êxito e ambos já se encontram em recuperação
em suas casas.
Neste
mundo desorientado pelo egoísmo, pela vaidade, pela ganância, e em que as más
notícias nos entram em catadupa porta dentro, são casos como este que nos
mostram que nem tudo está perdido e que a esperança ainda mora connosco.
E
é na família, nesse núcleo de convivência unido por laços afectivos que
encontramos apoio e aconchego nos momentos difíceis. Apesar de todos os embates
com que todos os dias é confrontada, ela continua a ser um tesouro sem preço.
Ao
contrário do que muitos pensam os jovens dos meios rurais ainda consideram
importante a base familiar, não tanto pela situação que se vive, mas mais pela
educação que receberam no seio familiar.
O
caso a que nos referimos é paradigmático e vem demonstrar que o país real, o
pais profundo, por vezes esquecido e injustiçado, pode dar lições de
solidariedade e de humanização aos que apenas o conhecem pelo mapa afixado no
seu climatizado, confortável e luxuoso gabinete do Terreiro do Paço.