A princípio, quando vi o ajuntamento, pensei tratar-se de uma greve, mas como não havia megafones, bandeirinhas nem dísticos do “povo unido” e não lobriguei nenhum dos nossos bolorentos e habituais síndicos, vi que devia tratar-se apenas de uma reunião normal.
Contei-as e eram vinte e três, mas havia três que estavam um pouco mais longe e tinham um ar de quem está ansioso aguardando qualquer coisa nova.
Todas se mexiam constantemente sem, no entanto, se afastarem do lugar que ocupavam. Faziam lembrar o teclado do meu computador e só quando me aproximei mais é que dei conta de que se tratava de facto das letras do alfabeto.
Todas juntas pareciam, à primeira vista, uma espécie de bicharocos que abundam naquele tapete húmido da floresta virgem dos países tropicais e que, de vez em quando, põem a cabeçorra de fora!
Do A até ao Z lá estavam todas, e aquelas três de que acima falei, o K, o W e o Y, continuavam afastadas e desconfiadas talvez com receio de não serem bem recebidas pelas 23 que há muito faziam parte do conjunto que rege a nossa escrita.
Os acentos gráficos passeavam à volta das letrinhas e o que me pareceu mais agitado foi o hífen que parecia nervoso e apreensivo. O til fazia vénias por ter sido poupado e parecia não ter nada a ver com a situação que se estava a viver.
Não pude conter-me mais e perguntei o que se passava. Respondeu-me o ponto de admiração dizendo tratar-se de um plenário convocado a pedido de algumas letras do alfabeto furibundas com a sua despromoção com a entrada do Novo Acordo Ortográfico.
As que mais reclamavam eram o Cê e o Pê e segundo me confidenciou o hífen, – ele também descontente por o terem afastado de algumas ligações – não se conformavam.
A primeira, o Cê, porque afirmava que, para além de outros casos, uma acção apenas com cê cedilhado perdia a sua verdadeira identidade e a sua tradicional força para agir.
A segunda, o Pê, argumentava também que das muitas supressões a que fora sujeito, a sua ausência no baptismo, era a mais grave, pois ia de encontro aos sentimentos de qualquer cristão que se preze!
Entretanto o Dáblio e o Ípsilon, mantinham-se na expectativa e aguardavam a sua entrada no novo conjunto das 26 letras do novo Alfabeto.
Estava eu observando todos estes comportamentos quando, lá ao longe, avistei uma fila de calhamaços de várias cores que avançavam na minha direcção e cujas folhas tremelicavam assustadas – eram os Dicionários numa demonstração de solidariedade, pois também eles iriam ser substituídos por uma nova geração…
Não consegui assistir ao fim de toda aquela barafunda para contar como tudo acabou, porque o telefone tocou e eu acordei!...
Contei-as e eram vinte e três, mas havia três que estavam um pouco mais longe e tinham um ar de quem está ansioso aguardando qualquer coisa nova.
Todas se mexiam constantemente sem, no entanto, se afastarem do lugar que ocupavam. Faziam lembrar o teclado do meu computador e só quando me aproximei mais é que dei conta de que se tratava de facto das letras do alfabeto.
Todas juntas pareciam, à primeira vista, uma espécie de bicharocos que abundam naquele tapete húmido da floresta virgem dos países tropicais e que, de vez em quando, põem a cabeçorra de fora!
Do A até ao Z lá estavam todas, e aquelas três de que acima falei, o K, o W e o Y, continuavam afastadas e desconfiadas talvez com receio de não serem bem recebidas pelas 23 que há muito faziam parte do conjunto que rege a nossa escrita.
Os acentos gráficos passeavam à volta das letrinhas e o que me pareceu mais agitado foi o hífen que parecia nervoso e apreensivo. O til fazia vénias por ter sido poupado e parecia não ter nada a ver com a situação que se estava a viver.
Não pude conter-me mais e perguntei o que se passava. Respondeu-me o ponto de admiração dizendo tratar-se de um plenário convocado a pedido de algumas letras do alfabeto furibundas com a sua despromoção com a entrada do Novo Acordo Ortográfico.
As que mais reclamavam eram o Cê e o Pê e segundo me confidenciou o hífen, – ele também descontente por o terem afastado de algumas ligações – não se conformavam.
A primeira, o Cê, porque afirmava que, para além de outros casos, uma acção apenas com cê cedilhado perdia a sua verdadeira identidade e a sua tradicional força para agir.
A segunda, o Pê, argumentava também que das muitas supressões a que fora sujeito, a sua ausência no baptismo, era a mais grave, pois ia de encontro aos sentimentos de qualquer cristão que se preze!
Entretanto o Dáblio e o Ípsilon, mantinham-se na expectativa e aguardavam a sua entrada no novo conjunto das 26 letras do novo Alfabeto.
Estava eu observando todos estes comportamentos quando, lá ao longe, avistei uma fila de calhamaços de várias cores que avançavam na minha direcção e cujas folhas tremelicavam assustadas – eram os Dicionários numa demonstração de solidariedade, pois também eles iriam ser substituídos por uma nova geração…
Não consegui assistir ao fim de toda aquela barafunda para contar como tudo acabou, porque o telefone tocou e eu acordei!...
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