quarta-feira, dezembro 14, 2011

O MEU ZURRO


Já este ano falei sobre o assunto. Mas, porque há dias e de Norte a Sul do País as ruas se encheram de “grevistas”, eu continuo sem saber quais os benefícios que advieram do protesto tanto para os protestantes como para o País.
Aliás é minha convicção de que muitos dos que participaram no movimento, fizeram-no mais por arrasto do que por convicção pessoal. Não cabe na cabeça de ninguém de bom senso que no estado actual em que financeiramente nos encontramos, é saindo à rua, gritando e dizendo mal de tudo e de todos, que contribuímos para inverter essa situação.
Quando se faz parte de uma multidão, ninguém pertence completamente a si mesmo – «tem-se menos elevação nos sentimentos, menos firmeza na vontade, menos valor sob todos os pontos de vista, do que quando se pensa, sente e age isoladamente.» E, dessa maneira corre-se o risco de se deixar arrastar e apaixonar por visões confusas, que não correspondem nem ao que seria melhor nem aquilo que se pretende quando somos apenas nós mesmos a pensar. As multidões abafam e dominam a personalidade dos homens que nelas se enquadram e que muitas vezes até os desumanizam.
Sabemos que o fosso entre as desigualdades sociais se avoluma cada vez mais, mas é bom não esquecer que os mentores das greves, aqueles que enchem a boca com “o bem-estar do nosso Povo” nem sempre têm isso em vista.
Houve ainda há pouco eleições e foi eleito, democraticamente, um Governo que herdou do anterior uma situação financeira tão catastrófica quanto imoral – catastrófica pela sua incidência ruinosa no que respeita ao futuro, e imoral pelas injustiças praticadas contra os que menos têm em favor dos que têm em demasia.
Esquecer tais factos e não unirmos esforços para inverter a situação desastrosa em que nos encontramos é o mesmo que fecharmos os olhos, é sermos irresponsáveis a ponto de esquecermos que estamos a contribuir para um tenebroso futuro das gerações vindouras em que já estão incluídos os nossos filhos e os nossos netos.
Como acontece com uma educação mal adaptada que deforma rapidamente a mentalidade de um povo, o mesmo se verifica com comportamentos que aumentam o descontentamento, avolumam as paixões, radicalizam-nas, e fazem com que o bom senso escasseie, e a razão deixe de desempenhar a sua função de fiel da balança.
Nestes momentos de perturbação em todos os sectores da vida nacional são sempre os mais carenciados a pagar a factura. Os mentores dessas manifestações, os eventuais ou verdadeiros responsáveis nada sofrem e assistem contentes às manifestações e aos insultos da turbamulta. No difícil momento que o País atravessa, mesmo ressalvando os direitos que todos têm em reivindicar, as greves a que temos assistido ultimamente são mais a expressão de um egoísmo desmedido, de uma vergonhosa luta política, do que de uma verdadeira questão de justiça social.
Diz-se que vozes de burro não chegam ao céu, mas como zurrar ainda não paga imposto, aqui fica, em jeito de opinião, o meu zurro.




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