sexta-feira, junho 20, 2008

Mudanças



Vim ao mundo num tempo em que era necessário muito esforço, muito trabalho, persistência e força de vontade para levar a cabo trabalhos que hoje se concluem premindo apenas um simples botão ou ligando uma pequena alavanca.
Era um tempo sem tempo – um tempo em que havia tempo para se apreciar o tempo! Um tempo em que a vida desfilava natural e pacificamente, limitada que estava a horizontes reduzidos e a normas específicas que não podiam ser ultrapassadas.
Mas à medida que o tempo foi passando, as descobertas e as conquistas das ciências e das técnicas, têm-me feito assistir a transformações tão grandes e a progressos tão ousados que só na Natureza, posso ainda encontrar pontos de referência.
Ela continua indiferente e orgulhosa seguindo o seu caminho, sem alterar as leis imutáveis que lhe foram ditadas. Sem variações no seu tempo: os dias, as noites, os meses, os anos, como num desfiar de rosário puído, vão passando, compassadamente, indiferentes às velocidades vertiginosas dos homens, e às suas ousadas incursões pelos campos do desconhecido.
Esta manhã, e talvez porque a Primavera começou, olhando da minha janela, eu senti uma identificação interior com esse meu tempo sem tempo! As árvores floridas, o chilrear dos passaritos e até as gotículas de água das folhas das plantas que brilham com o Sol nascente, tudo isso é como que uma afirmação de que o homem nem tudo conseguiu mudar, ou desviar do seu rumo!
Mas, apesar de tudo isso, quão difícil se torna resistir à pressão do meio que nos cerca e não entrar neste labirinto infernal que a muitos cega e faz esquecer os próprios valores espirituais que enobrecem e nos distinguem dos animais?!...
À medida que os anos se vão amontoando, mais nítida se torna a ideia de que o progresso tecnológico só por si, além de não garantir o bem-estar da humanidade, pode até fazer perigar o seu futuro.
Tanto os homens como os Estados precisam urgentemente de um auto-domínio que, refreando as suas ambições, oriente as suas actividades pelos caminhos da razão e da justiça para que seja, não apenas apregoado, mas encontrado e construído, o verdadeiro bem-estar da Comunidade.
Tudo isso está na mão do homem.
Falta saber se há vontade e determinação para o concretizar. Mas parece que não!...
Vive-se para ganhar cada vez mais e para o gastar não só no necessário, mas sobretudo no desnecessário. E é esta ambição que impede que se viva o momento presente com tranquilidade e paz.
Hoje a causa da infelicidade de muitas pessoas reside na sua ambição desmesurada, no desejo incontido de ultrapassar o vizinho, de possuir mais e melhor, mesmo que para tal seja necessário espezinhar valores que lhes foram ensinados desde o berço.
A par disso as injustiças sociais crescem a um ritmo acelerado. Não há sentimento de partilha e a humildade é palavra que caiu em desuso. Os valores morais foram votados ao ostracismo, ninguém respeita ninguém. São mudanças cuja origem reside apenas e só no homem. Porém, o mesmo homem, apesar de todo o avanço das ciências em tecnologia não conseguiu, até hoje, mudar qualquer das leis que regem toda a Natureza. Quaisquer que sejam as nossas crenças filosóficas e religiosas que professemos as suas regras imutáveis conduzem-nos a uma profunda reflexão.

1 comentário:

Anónimo disse...

extrordinario, y de muy buen gusto