quarta-feira, junho 04, 2008

Pontapés




Um estudo recente feito pelo Centro Europeu de Pesquisa de Assuntos Sociais sobre “As paixões do futebol” concluiu que, na Europa, os portugueses são mais viciados no sexo do que na bola e que quatro em cada cinco indígenas preferem o sexo a um bom jogo de futebol!...
Nunca acreditei muito nos resultados dessas consultas de opinião e, então neste caso, são muitas as minhas reservas e dúvidas quanto às conclusões do referido estudo.
A euforia que se viveu aquando do Euro 2004 e a que agora se está a viver com a próxima disputa do Europeu 2008, bem condimentada com a moda do “casa – descasa”, reforça ainda mais a minha certeza de que os portugueses, tanto no sexo como na bola são os maiores!
Só quem não lê revistas cor-de-rosa , não vê, em cada esquina, o entusiasmo dos namorados ou não assiste a certos programas de alguns dos nossos canais televisivos é que pode duvidar da minha afirmação…
Mas falando agora apenas de bola, não há dúvidas de que não há melhor narcótico para adormecer o Zé do que o futebol. Há dias, na cidade aonde trabalho e no dia em que a Selecção veio fazer apenas um treino, tudo parou, todos saíram à rua para ver passar a camioneta dos craques. Os sortudos que conseguiram um bilhete para assistir ao treino, mostravam-no como se tivessem na mão a chave da entrada para o Paraíso!
Mas vem de longe este fenómeno. Se fizermos uma digressão através dos tempos, encontramos em todas as épocas exemplos das reacções dessas multidões desportivas. Desde a antiguidade, passando pela Idade-Média até aos nossos dias, o fenómeno repete-se embora com roupagens diferentes. O comportamento psicológico dos adeptos pouco tem variado e a síntese do especialista brasileiro Inezil Marinho é bem elucidativa: «O torcedor é em geral um indivíduo habitualmente morigerado, que trabalha durante toda a semana, cumpre fielmente as suas obrigações, obedece às ordens dos seus superiores e é incapaz de ofender ou agredir alguém (…) Mas quando na multidão, como um dos integrantes da claque, sofre transformação radical. É capaz de dirigir os maiores insultos ao árbitro ou aos jogadores da equipa adversária, atirar-lhes garrafas ou pedras e é até capaz de agredi-los (…) Não raciocina com lucidez e é vítima de grande número de erros de percepção pela paixão que o domina, pelo partidarismo que o impede de analisar os factos como são…»
Com esta citação não quero, evidentemente, “vestir” toda aquela gente que ontem vi quase em êxtase, boca aberta e olhos esbugalhados, seguindo embevecidos os chutos dos seus deuses.
Devo dizer, no entanto, que me alegra o facto de ver que há cada vez mais adeptos do pontapé!
Pena é que eles (os pontapés) se fiquem apenas pela bola…

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