sábado, dezembro 29, 2007

Feliz Natal


Feliz Natal
Neste mundo apressado e frenético em que vivemos, só as crianças, na sua inocência e simplicidade e com a pureza que brota dos seus corações, continuam a transmitir a mensagem de esperança, de solidariedade, de paz e de amor que há mais de dois mil anos, esse Menino veio trazer ao Mundo.
Os homens, numa luta contínua e ambiciosa, – primeiro na terra, depois nos mares, nos ares e agora nos espaços interplanetários, pouco a pouco, se foram esquecendo de si próprios.
E por mais paradoxal que isso pareça, quanto mais o homem avança e mais descobre, mais ele se apaga e mais a sua imagem original se desvanece nessa corrida vertiginosa que a vida lhe impõe. Preso na automatização que criou, ele tende cada vez mais a transformar-se numa simples peça de uma engrenagem maldita, da qual jamais poderá libertar-se.
Dei comigo a pensar em tudo isto num hipermercado rodeado pela multidão frenética, apressada e eufórica que por entre atraentes brinquedos, inúmeras iguarias, e tentadoras embalagens de prendas, se acotovelava ao som do "Jingle Bell" facturado em jeito de rock e lançado pelos alto-falantes espalhados por todos os cantos.
Um outro mundo, esse!... Um mundo mágico e fantasmagórico, tornado ainda mais quimérico e irreal pelo piscar intermitente de miríades de luzinhas coloridas. À música, juntava-se a algaraviada daquele formigueiro que, em longas filas, carrinhos a abarrotar, esperava a sua vez. Novos, menos novos e muitas crianças – um ror de gente!
Comparações com o Natal da minha infância? Impossíveis... Nem parecenças com aquele Natal tranquilo, quase sem brinquedos! Uma noite diferente envolta no perfume da resina das pinhas a aquecer junto à lareira para extrair os pinhões; os estalidos do troco que ardia; as panelas de ferro de três pés onde, conjuntamente, coziam as batatas, as couves e o bacalhau para a ceia; as filhós de farinha de trigo que minha Mãe tão bem fazia... e que tão bem sabiam lambuzadas com o mel das nossas colmeias!...
E o presépio, na velha capela, revestido com heras e musgo onde um menino gorducho, de faces rosadas, com um dos dedos do pé já partido, parecia sorrir? E a Missa, e depois a fila para beijar o Menino; e as ofertas que se depositavam num açafate de vime; e os cânticos, ainda sem instrumentos musicais; e depois o regresso a casa, agasalhados nas samarras, nas capuchas de burel ou nos xailes de merino? E aquele matraquear dos socos e dos tamancos nos degraus luzidios da escadaria de loisa...
Mas tudo mudou!... No entanto, e porque o Natal «é a festa de uma criança que acabou de nascer», ela pressupõe sempre um recomeço que muitas vezes é um reviver do passado. Um encontro com o presente. Com muitos sonhos à mistura. E muitas recordações. Nunca ouviram dizer que os velhos passam o tempo a recordar?!...
Um santo e feliz Natal para vós todos.

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