domingo, novembro 04, 2007

Porreiro, pá!...

“Porreiro, pá!...”
Continuo a acreditar que somos, de facto, um povo extraordinário. Somos pau para toda a colher. Temos uma pachorra incomensurável e um desmedido arcaboiço para encaixar os mais incríveis disparates.
Cá dentro, bem no fundo do nosso “eu”, somos de tudo um pouco: paternalistas, brincalhões, descomplexados, cultivadores acérrimos do nacional-porreirismo e, essencialmente, os descendentes directos de uma árvore genealógica com muitas e diferentes ramificações. Do seu vetusto tronco, saíram muitos e variados ramos de cores diferentes, formando frondosa e matizada copa. E, em País de ameno clima, de brandos costumes, à sua sombra e à socapa, uma diversificada e duvidosa casta vai-se acoitando das intempéries da vida, graças a uma cumplicidade bem disfarçada. Somos, por isso, um amálgama de gente bizarra – de homens ingénuos e perdulários, de heróis destemidos, de arrojados piratas, de intrépidos marinheiros, de refinados falsários, de rudes campónios, de ilustres fidalgos, de brasonados ilustres, de vigaristas inveterados, de exímios palhaços, de inimitáveis actores de comédia e também de gente piedosa, bem instalada na vida, que sob o manto da solidariedade e do bem comum vai tosquiando o gado miúdo – a ralé – que, resignada, vai lambiscando o pouco que o graúdo lhe deixou, mas sempre sorridente e acomodada, batendo palmas na rua e insultando os mandantes no conforto do lar, pantufas nos pés, e janelas fechadas. É que as paredes têm ouvidos e os bufos estão sempre de orelha atenta, pé ligeiro e língua pronta a esguichar o veneno da denúncia. Mas somos os maiores! Em tudo. Escutem o que dizem os mandantes, leiam os jornais, ouçam os comentadores da TV, atentem no que dizem os analistas encartados, os profetas em estágio, e logo verão que assim é.
Ainda agora, na Cimeira de Lisboa, como pomposamente chamaram à reunião dos 27, noticiaram os jornais, disseram os organizadores e completaram os noticiários na televisão que luxo assim, só em Portugal – conseguimos atrair a fina-flor da Europa, e fazer com que os melhores hotéis esgotassem a capacidade; que houvesse jantaradas que nem Pantagruel teria sido capaz de imaginar; que os carros topo de gama fizessem alterar o trânsito da capital; que em cada esquina houvesse um polícia... Enfim, um sucesso tão grande que os representantes dos países presentes renderam-se ao nosso engenho e arte e não tiveram outro remédio senão assinar o tal Tratado! Isto sem falar no efeito persuasor da mochila “uma ideia renovadora que aposta nas energias renováveis,” que deixou os visitantes de boca aberta! E dava gosto vê-los, mochila às costas, satisfeitos por terem assinado o “instrumento que ajuda a UE a sair de uma crise política que a atrofia”, como disse um eurodeputado português.
Custos da Cimeira? Migalhas! Vêm aí os “Fundos”... Já imaginaram uma “torneira” a debitar 10 milhões de euros por dia? Não é “porreiro pá”?...

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