Há
dias em que a desilusão é mais forte e, então, isolamo-nos dentro de nós mesmos
e damos asas à imaginação. E o pensamento voa, rodopia, desce, sobe, sempre em
torno do mesmo eixo que é a Vida. A vida, este dia a dia cada vez mais
materialista, mais cheio de risos amarelos, de sorrisos irónicos, de olhares de
soslaio que mais parecem armas de agressão...
É
assim a sociedade de hoje, competitiva, apressada, hipócrita e egoísta. Não há
tempo sequer para uma introspecção serena e desapaixonada. São muitos os
deuses, e os santos escondem-se por se sentirem deslocados no meio de tanta
falsidade e ostentação.
Vive-se
rodeado de uma corte de fingidos, de snobes, de manequins de plástico e de
bonecas fúteis, cheias por fora e vazias por dentro. O que importa é aparentar
aos olhos dos vizinhos e conhecidos, uma imagem adaptada aos ventos que sopram
- roupagens da moda, altivez a condizer, e esse ar de gente fina, com olhar
distante... e vistas curtas! Imitar, fazer de conta. Aparentar o que se não é,
e não esquecer a regra fundamental da irmandade: bajular na frente e caluniar
nas costas.
Perante
esbanjamentos loucos não resistimos à tentação de perguntarmos a nós próprios, -
que trabalhámos uma vida inteira e continuamos a trabalhar - como é possível,
angariar fortunas em tão curto espaço de tempo e, aparentemente, sem grande
esforço?!...
Talvez
seja esse mais um "milagre" desta nova sociedade convencional que
todos nós criámos. Todos sem excepção. Uns por vontade própria, outros porque
não tiveram coragem de se opor, acomodando-se e sujeitando-se aos caprichos e
desvarios dos mais fortes. Não há, pois, razões para queixas. Não há lugar para
invejas, nem fundamento para acusações. Nem a Natureza, nem as leis que
estiveram na formação da Civilização, têm quaisquer culpas. O Homem é o único
culpado. Todos somos cúmplices. E não é por acaso que as nossas reacções a
factos que deveriam ser denunciados se ficam apenas por um simples encolher de
ombros. É o egoísmo a mandar, é o comodismo a sobrepor-se à personalidade e a
transformar-nos em "escravos modernos" às ordens de "novos
senhores". Os abusos da tecnocracia e os excessos do capitalismo
financeiro, ao mesmo tempo que criaram novas classes sociais, originaram também
novas injustiças.
E
quando numa sociedade o dinheiro se sobrepõe à inteligência, à humildade, à
solidariedade, e à generosidade, é caso para nos interrogarmos sobre o futuro.
O tal futuro de que tanto se fala e que é já amanhã. O futuro para o qual será
necessária uma nova doutrina social e humanista que dê resposta aos novos
problemas sociais, que entretanto foram surgindo. E não será tarefa fácil quando
até na feitura das leis intervêm interesses particulares e a sua promulgação se
faz na ânsia da obtenção de contrapartidas.
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