quarta-feira, abril 03, 2013

VIVER A VIDA



Entre outras e variadas reflexões que o escritor francês André Maurois nos deixou no seu livro intitulado a “Arte de Viver”, há uma que tento adoptar, não como antídoto eficaz contra a velhice, mas como uma espécie de retardador da sua chegada.
Escreveu ele que «O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, é a indiferença da alma».
Acredito que esta pequena frase seja motivo de troça por parte de muita gente, mas no meu caso pessoal, como crente que sou, e pelas experiências vividas, nela está o segredo para que a partir de certa idade a vida se não transforme num inferno terrestre.
Sou, como todos sabem, um homem velho. Já passei por muitas situações, boas e más.
Nunca ocupei um lugar de destaque, nunca fiz um grande feito pela humanidade, nada que me transformasse num herói.
Mas mesmo assim gosto da vida e de tudo o que ela me tem proporcionado até hoje. Por isso não quero adormecer para sempre. Não quero deixar os que me são queridos, as árvores e as flores do meu quintal…
Quem disse que já estou a mais, que não faria falta a ninguém? E mesmo que não fizesse onde está escrito que isso é motivo para deixar a vida? Quem pensa assim? Vocês, o meu médico? O psiquiatra que vê em mim um potencial cliente?
É curioso! Aos dez anos, imaginava que aos vinte já seria um homem. Aos 20 pensava que aos 60 seria já velho, mas ao completá-los senti-me jovem e pensava cá pra mim: velhice só aos 70… E chegaram os 80. E passaram. E ao contrário dos meus netos, continuo a fazer contas sem ajuda da calculadora!  
Então venham mais 10, venham tantos quantos forem possíveis. Velho jovem? Velho maluco? Podem chamar-me o que quiserem, mas eu quero viver!
Como é maravilhosa e linda esta caminhada que é a vida quando ao longo do percurso a lapidámos com o cinzel da humildade e a unimos com laços familiares!
Não precisei de estudar os grandes tratados de filosofia ou outros, para aprender o valor da amizade e a cultura dos princípios. Também sei que esta é a última etapa da vida, a derradeira. A dimensão biológica começa a esgotar-se e por isso ficamos também mais sensíveis a gestos de bondade que nos arrastam facilmente às lágrimas.
Mas apesar de tudo, apesar de velho e de habitar este retângulo, esta espécie de jardim zoológico onde coabitam os mais variados humanóides – ladrões, incompetentes, corruptos, parasitas, prepotentes, parasitas e vermes nojentos -- eu quero continuar a viver…


























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