Serão já poucos os que ainda se lembram dos romances do escritor francês, Pierre Alexis, mais conhecido por Ponson du Terrail, um dos produtores mais populares do romance-folhetim do século XIX.
Na
minha adolescência li quase todos os seus livros, sobretudo aqueles em que
entrava uma espécie de "herói" que protagonizava as aventuras mais
inverosímeis!
O
autor celebrizou-se com um folhetim publicado numa revista francesa da época, La Patrie, e que ficou conhecida como a
série dos Rocambole, nome por
que era conhecido o actor principal.
A
popularidade desse herói crapuloso foi tal, que os capítulos sucederam-se
naquela publicação ao longo de vinte e cinco anos.
Os
romances intermináveis, mas solidamente estruturados, baseavam-se,
essencialmente, na intriga.
Uma
intriga complexa em que as peripécias e as situações imprevistas mantinham continuamente
o leitor na expectativa - atentados maquiavélicos, usurpações de identidade,
crimes, fraudes, disfarces, vinganças, violações, tudo isso com arrependidos e
penitentes pelo meio de modo a segurar o leitor durante o desenrolar da acção.
Vem
este intróito a propósito das situações rocambolescas
que ultimamente se têm vivido ultimamente cá na Lusitânia em diversos sectores
da vida nacional e com mais incidência no sector da política. De facto, os
nossos eleitos, os filhos da Pátria, não param de nos surpreender com as suas
traquinices, as suas birras, a sua incompetência, os seus cambalachos e o seu total
desconhecimento do país real!
Mas
tudo isto já vem de longe. É a nossa sina, o nosso fado. É a sina do povo. É o
mar no seu constante vaivém. Coitado do mexilhão...
Já
em 1877, Ramalho Ortigão escrevia: "A política converteu-se em uma vasta
associação de intriga, em que os sócios combinam dividir-se em grupos, cuja
missão é impelirem-se e repelirem-se sucessivamente uns aos outros, até que a
cada um deles chegue o mais frequentemente que for possível a vez de entrar e
sair do Governo. Nos pequenos períodos que decorrem entre a chegada e a partida
de cada ministério o grupo respectivo renova-se, depondo alguns dos seus
membros nos cargos públicos que vagaram e recrutando novos adeptos candidatos
aos lugares que vieram a vagar. É este o trabalho de assimilação e
desassimilação dos partidos, que constitui a vida orgânica do que se chama a
política portuguesa..."
E
digam lá se isto não é sina!...