sexta-feira, agosto 26, 2011

H E R A N Ç A S


A receita tornou-se corriqueira e anda de boca em boca – “sem uma mudança da mentalidade a coisa não vai lá”. A “coisa”, claro está, é a situação do País.
A frase que passou a emoldurar quase todas as conversas, tornou-se tão democrática que se ouve tanto da boca de um doutorado como da de um simples e iletrado borra-botas.
Somos assim. Somos um conjunto de seres humanos, que embora diferentes têm em comum a mania de dar sentenças.
Somos exímios em dar palpites, os melhores em apontar erros, mas uma manifesta doença congénita faz com que vejamos o argueiro no olho do vizinho e não a trave que temos no nosso.
Mas haverá alguma maneira de modificar esta nossa maneira de ser, esta espécie de mola interior que nos faz saltitar e que transforma cada um de nós numa espécie de faz-tudo?
Somos assim e pronto. Fanfarrões e descomplexados…
Julgamos possuir conhecimentos em todas as áreas – da política ao futebol passando pelas intermédias, medicina, engenharia, arquitectura, literatura, astronomia, ciências ocultas, gastronomia, em todas elas temos sempre que meter o bedelho!
Sobre todas opinamos, damos palpites e até receitas…
Diz-se por aí que temos falta de médicos. Mentira. Num domingo, à saída da missa, queixem-se de uma dor nas costas e logo verão a quantidade de esculápios que anda por aí ao deus-dará e a quantidade de diagnósticos que logo vos farão!
Na política nem se fala. Não há bicho-careta que não critique os ministros. Mais o das Finanças e da Saúde. O primeiro, porque é quem manda no dinheirinho e o segundo, porque, supostamente, é o que faz andar o esqueleto! Os outros apanham por tabela, mas não se livram, no entanto, de que lhes chamem nomes feios muitos deles pondo até em causa questões de maternidade.
E no Futebol? Os doutorados nessa prática são mais que muitos. Fanáticos, sofredores, adivinhos, e todos com vastos conhecimentos na ciência do pontapé. E todos difíceis de consenso… Vão lá dizer a um benfiquista que o Porto é o maior, ou a um sportinguista que o Benfica vai ser campeão!
Por tudo o que fica dito e escrito julgo que a tal mudança de mentalidades, de que muito se fala, nunca acontecerá.
Como acima disse, somos assim e ponto final. Há factores hereditários de que não podemos livrar-nos. Cada um de nós guarda dentro de si uma mistura de genes herdados dos nossos antepassados que tanto nos podem transformar em santos, em heróis, em aventureiros, como em trapaceiros, vigaristas ou corruptos encartados. Como disse um dia Salazar, “felizmente que não temos petróleo…” Se o tivéssemos ainda seríamos pior, penso eu.





















































D I S F A R C E S


Como já muitas vezes disse, tenho uma arca onde guardo alguns escritos. Leio, guardo ou tomo notas quando julgo interessante o assunto. É um vício antigo e que, contrariamente ao do tabaco, ainda não consegui pôr fim.
E é por isso que, de cada vez que vou ao baú e remexo os papéis, há sempre algum que desperta a minha curiosidade.
Desta vez foi uma nota a lápis datada de 1994 em papel já amarelecido que dá conta do “escândalo” motivado por um discurso do Professor Cavaco Silva, então 1.º Ministro, que alertava para a urgente defesa dos valores da Pátria e da Família, nomeadamente do sentido da honra, da inteireza de carácter e da honestidade.
E esse escândalo originou tanta gritaria e gerou tal burburinho que de armas aperradas e de bandeiras ao alto, desde as hostes esquerdistas às fileiras dos chamados “de direita”, todos se fizeram ouvir manifestando a sua indignação. Cidadãos houve, que apelaram mesmo à excomunhão!
Estávamos numa altura de exacerbado europeísmo. E, concupiscentes, todos os olhares convergiam para os cofres de Bruxelas, de cujo ventre se esperava viessem carradas de notas – os famigerados “Fundos”!
E nessa expectativa, apregoar ideias fascistas e até neo-nazistas como o culto da Pátria, a defesa da Família, dos valores ancestrais, para muitos “patrinotas” (homens que trocaram o amor à Pátria pelo amor às notas do banco) era o mesmo que colocar de novo a estátua de Salazar no pedestal em Santa Comba Dão!...
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. De facto, muito mudados andam os tempos e muito viradas do avesso andam as vontades.
Quem imaginaria que passadas mais de três décadas essas palavras “malditas” – Pátria, Família, Honra e Honestidade – continuam a ser profanadas, desrespeitadas e cada vez mais esquecidas por aqueles que deveriam adoptá-las como lema?!...
Urge restaurar a Família Nacional devolvendo o que se lhe roubou durante anos com ladroagem, indisciplina, incompetência e deboche.
Este charco infecto que é a política vai fazendo desaparecer pouco a pouco a herança deixada pelos nossos Avós – uma herança feita de riqueza de alma, de amor pátrio, de honra e de honestidade.
E assim chegámos a este estado de pedintes. Parafraseando Vieira, se é agradável dar ou receber, a mais dura e a mais desprestigiante palavra da nossa língua é … pedir. E foi a isso que nos conduziram os nossos patrinotas. Podem chamar-me saudosista, mas continuo a pensar que enquanto a unidade política for o indivíduo, a nossa sociedade continuará a ser governada por ditaduras. Embora disfarçadas…




















FAMÍLIA E ESCOLA



Não há dúvidas de que vivemos num mundo conturbado, num mundo cheio de armadilhas, de incertezas e de descrença. Até a Natureza parece saturada de tantos desmandos e nos acorda da letargia em que mergulhámos através de catástrofes naturais!
Não vou entrar na velha cantilena de que antigamente é que era bom, porque, como todos sabem, também não era bem assim.A vida foi, é, e será sempre difícil, muito embora para uns o seja mais do que para outros.
Mas que havia coisas diferentes que se destruíram e cuja falta agora se está a notar cada vez mais, ninguém pode negar. Nos primeiros quartéis do século XX éramos de facto um povo demasiado iletrado, mas com bom nível de educação e de civismo.
E esse estatuto de educados e de cívicos deveu-se, essencialmente, a duas Instituições – a Família e a Escola. Ora, atualmente, tanto uma como a outra estão em franca desagregação!
A família tem vindo a ser atacada por ideologias minoritárias mas com grande audiência nos poderes públicos. Legisla-se e impõem-se sugestões que uma centena de milhares de apaniguados lança para o ar sem respeitar a opinião de milhões que nem sequer são ouvidos.
A escola, na sequência dos desvarios por que tem passado continua transformada numa inadmissível fonte de deseducação e de libertinagem que irá refletir-se em toda a futura vida nacional.Somos, estatisticamente, um povo de doutores e engenheiros, mas vivencialmente, em educação e civismo, somos uma nação insubordinada e agressiva, geradora de gente inculta e pouco recomendável. O vandalismo e a indiscplina andam à solta em quase todas as escolas com exceção de uma ou outra onde reina a ordem e o respeito.Não admira por isso que haja professores a frequentar clínicas psiquiátricas e que aumente cada vez mais o número daqueles que vejam nas reforma antecipada uma maneira de se verem livres das aulas que muitas vezes se transformam em autênticos ringues onde se travam agressões psicológicas, que muitas vezes degeneram em confrontos físicos.
O Estado que tem a obrigação de impor disciplina e respeito, demite-se da sua função, faz vista grossa, criando nos jovens sentimentos de impunidade e de rebeldia. E é assim que se descredibilizam ainda mais as instituições escolares e se caminha a passos largos para a degradação da futura sociedade.
É verdade que a democracia nos trouxe muita coisa boa. Mas nada tem feito para dar continuidade a outras que já tínhamos. Refiro-me à educação e ao civismo, esses dois grandes e sólidos alicerces da sociedade. A construção do primeiro era-nos ensinada, em casa, pelos nossos Pais. A do segundo pelos Professores na Escola.