sábado, outubro 03, 2009

RECORDAÇÕES DE ÁFRICA - Testemunhos

Mapa da viagem
«O viajante que percorre a África, ao chegar ao Congo Belga, fica impressionado com o trabalho deveras notável que ali se realizou em tão pouco tempo.
Não pretendemos, num trabalho desta natureza, apreciar afundo tudo o que ali tem sido feito em pouco mais de meio século. Vejamos, por exemplo, como é concedida a assistência sanitária ao indígena: cada distrito possui seis a oito hospitais. Visitámos um hospital-tipo, igual a todos os outros, que faria corar de inveja muitos hospitais de cidades europeias, provido de pavilhões separados para homens e mulheres, instalações de Raio X, dois laboratórios, uma bem apetrechada sala de operações, uma sala para partos e diversos anexos.
Suponhamos, por exemplo, que um indígena se encontra doente a cem quilómetros do hospital mais próximo: recebido o apelo, imediatamente uma ambulância se desloca a recolhê-lo, hospitalizá-lo, tratá-lo fornecendo-lhe os alimentos e remédios, operá-lo, se necessário for, tudo isso sem despender um centavo. Na hipótese de o indígena ser empregado, a firma empregadora pagará uma taxa insignificante.
Vejamos agora alguns números que me foram fornecidos gentilmente pelo director desse estabelecimento hospitalar: leitos, 250; intervenções cirúrgicas, 350 por ano; partos 1.200 por ano.
O Governo belga constrói activamente em pedra casas para os indígenas destinadas a substituir as pitorescas mas anti-higiénicas palhotas. Leis são promulgadas destinadas a proteger o indígena, muitas vezes – diga-se de passagem em detrimento do colono branco… Isto e muito mais no que diz respeito à assistência ao indígena.
Tem sido notabilíssima a obra de aproveitamento do solo, desenvolvimento industrial, exploração do subsolo, etc. Tudo isto tem sido possível m virtude das enormes facilidades concedidas pelo Governo belga os colonos de todas as nacionalidades Créditos bancários são igualmente concedidos com a maior facilidade. Esta é, na realidade, a verdadeira razão da prosperidade no Congo Belga: facilidades, sempre facilidades em tudo. Um colono deseja abrir um estabelecimento? Muito bem…Abre o estabelecimento e tem um mês ou dois para tratar das respectivas autorizações, com a s formalidades reduzidas ao mínimo. Deseja uma audiência de alguma alta individualidade? Muito bem… Apresenta-se com o seu traje de trabalho, em mangas de camisa, sem gravata e é imediatamente recebido.
Eis em poucas linhas o que tem sido o belíssimo trabalho de colonização executado pelos belgas em sessenta anos.
Porém, atrás desse, há outro que talvez lhe não seja inferior: o trabalho executado pelos portugueses.
Falando correctamente a língua dos indígenas, os portugueses, em meados do século passado foram os primeiros comerciantes a estabelecer-se no Congo.
Conversei com alguns velhos comerciantes que, com risco da sua vida, entraram em contacto com indígenas que nunca tinham visto um branco, algumas tribos com reputação de antropofagia, estabelecendo feitorias portuguesas por todo o Congo, encontrando-se compatriotas nossos nas regiões mais remotas, onde num raio de cem quilómetros não se encontra um branco. (…) A colónia portuguesa do Congo Belga goza hoje de um grande prestígio, que muito honra o País…»
Do “Roteiro Africano”( 1955), um livro de Fernando Laidley, primeiro a efectuar a nível mundial a primeira volta à África em automóvel ( um “carocha”),páginas 153/4:

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