sábado, outubro 03, 2009

RECORDAÇÕES DE ÁFRICA - A Ngonga


Um pouco atrás referi-me a este instrumento, mas penso que vale a pena determo-nos um pouco e falarmos sobre esse tradicional instrumento de comunicação africano.
Aqueles que viveram as emoções das duas grandes “caçadas aos brancos”em 1960 e 1964 conhecem bem o papel desempenhado por ele nesse período.
Num tronco de árvore, um especialista, uma espécie de marceneiro, retira o miolo abrindo um corte longitudinal. Deixa que o tronco seque e vai depois, batendo com duas maçanetas de madeira, abrindo o corte, procurando obter o som desejado. Alcançado esse objectivo, está a "ngonga" pronta a entrar ao serviço...
Esse instrumento de percussão era usado na plantação para anunciar a chamada dos trabalhadores, a recolha do látex ou fora destes dois casos para reunir todo o pessoal para qualquer comunicação.
No entanto não era qualquer um que podia fazê-lo, pois há toques diferentes e muitas vezes ouvíamos a “ngonga” de uma aldeia vizinha, cujo toque (para os indígenas) significava que tinha morrido alguém ou que qualquer outro facto importante tinha acontecido…
Havia uma espécie de escala musical que era interpretada consoante o respectivo acontecimento.
Era uma maneira de comunicação entre aldeias. Na plantação e para que o som chegasse mais longe, a ngonga
estava colocada no cimo de uma termiteira com cerca de três metros de altura.
Como acima já disse, aquando das rebeliões, tanto da de 1960 como da de 1964, a ngonga foi um dos meios de comunicação que, sobretudo nas regiões do interior onde me encontrava, facilitou muito o “trabalho”dos rebeldes, dando-lhes indicações da movimentação dos europeus, o que levou às atrocidades de que todos tiveram conhecimento.

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